março 19, 2008

Barack Obama, em 1952

Em 1952, a campanha para a Casa Branca estava ao rubro. Do lado republicano, o herói de guerra Dwight D. Eisenhower, cujo slogan de campanha “I Like Ike”, aliado à sua enorme popularidade, esmagavam o candidato democrata Adlai Stevenson, um intelectual, orador brilhante, de quem naturalmente os norte-americanos desconfiavam. Porém, tudo mudou no dia 1 de Maio de 1952, quando Adlai Stevenson, descansando a meio de um comício, foi fotografado, sem saber, por Bill Gallaher, do “The Flint Journal”. A fotografia mostrou que o intelectual distante tinha um buraco nos seus sapatos gastos, e isso bastou para que os eleitores passassem a vê-lo como “um deles”, um homem do povo. A fotografia não foi no entanto suficiente para mudar o sentido de voto, tendo sido a Casa Branca ganha folgada e previsivelmente por Einsenhower, mas ficaria como um ícone do fotojornalismo e, um ano após o comício em Michigan, conquistaria o Pulitzer. O que é que isto tem que ver com Barack Obama, perguntam. Esta semana foi divulgada uma fotografia do pré-candidato democrata, descansando depois de um comício em Rhode Island, onde Barack Obama tem os pés em cima da mesa e, coincidência, os seus sapatos tem, não um, mas dois enormes buracos. A fotografia foi supostamente tirada por Callie Shell, da Aurora Photos, sem que Barack Obama tivesse notado. Tal como Adlai Stevenson. Acreditam? Eu não. Barack Obama vende a imagem do “homem de fora”, o homem do povo que luta contra o aparelho democrata. E eu sublinho a palavra “vende”. Apesar de pouco mais ter prometido do que sonhos e intenções piedosas, os norte-americanos revêem-se em Barack Obama precisamente porque não é um Kennedy, não é um Clinton, não é um Bush, não faz parte da oligarquia politica dos EUA. Os europeus, crédulos como só eles sabem ser, engolem o isco. Barack Obama pode vir a ser um bom presidente (embora eu ache que, se ganhar as primárias candidatas, John McCain vai ganhar as eleições de 2009), mas é tudo menos “natural”. O que, pessoalmente, até me descansa. De boas intenções está o Inferno cheio.