novembro 18, 2006

Oh, Captain!, My Captain!

Diversos professores convenceram centenas de alunos do ensino a revezarem-nos na vigília em frente do Ministério da Educação, manifestando-se ruidosamente, o que suscitou enormes protestos da JS, que viu na iniciativa uma inaceitável instrumentalização dos alunos. Não estou a ver qual é o problema. Da maneira como vejo as coisas, os professores estão apenas a emular a carismática personagem do professor John Keating, interpretada pelo Robin Williams no "Dead Poets Society". No filme do Peter Weir. O John Keating abria os olhos aos seus alunos, retirando-os das académicas salas de aulas e levando-os a passear pelos jardins do colégio. Em Portugal, os alunos são levados a passear até ao jardim do Ministério da Educação. Quando esses professores abandonarem as suas escolas, certamente os alunos se colocarão em pé nas suas carteiras, em sentida homenagem aos seus role models.

novembro 16, 2006

O que o PSD e o PS querem ser, quando forem grandes:

Pedro Santana Lopes publicou mais uma obra laudatória, “Percepções e Realidade”, que provoca mais uma discussão sobre os méritos e defeitos do homem. Para os seus apoiantes, Santana Lopes é a lufada de ar fresco numa política dominada por pessoas como o Jorge Coelhos e o Marques Mendes, homens do aparelho. Para os seus detractores, Santana Lopes é o exemplo acabado do “homem do aparelho”, a pessoas que nunca fez mais nada na vida a não ser colar cartazes do PPD, primeiro, e do PSD, depois. O que é verdade. A minha questão é só uma: qual é o exactamente o problema em se ser um “homem do aparelho”? Cavaco Silva é um “homem do aparelho”, António Guterres é um “homem do aparelho”, Jorge Sampaio é um “homem do aparelho”, Durão Barroso é um “homem do aparelho”, José Sócrates é um “homem do aparelho”, Mário Soares apenas não é um “homem do aparelho” porque Mário Soares criou o aparelho socialista. Desde o 25 de Abril, Portugal foi governado por “homens do aparelho”, à excepção de Francisco Sá Carneiro. Mas Sá Carneiro morreu jovem e não se pode, em propriedade, afirmar o que seria Portugal ou o PSD se ele não tivesse embarcado naquele avião. Ramalho Eanes, sem dúvida alguma, não era um “homem do aparelho”. E isso foi bom? Duvido. Foi essencial na transição de Portugal para a democracia, sem senhor. Mas politicamente foi uma nódoa. Deixou-se tentar pelo mítico “partido presidencialista”, o PRD, e foi o que se viu. Abriu caminho ao “homem do aparelho” Cavaco Silva. De cada vez que se temos eleições, volta à baila a suposta necessidade de vir “gente de fora”, “pessoas que não sejam políticos profissionais” e semelhantes delírios. Qualquer pessoa de bom sendo sorriria se o BPI nomeasse para CEO uma “pessoa de fora”, um cozinheiro, digamos, por muita boa pessoa que fosse. Basta lembrar o que aconteceu com a Selecção Nacional em 1986, no Mundial do México, quando abdicámos de levar um treinador para levarmos quatro pessoas “de fora do futebol”, muito bem intencionadas, engenheiros e etc, para conduzir a equipa. Para se exercer o que quer que seja, é necessário experiência e formação técnica. A política não é uma excepção, antes pelo contrário. Não adiante de nada termos pessoas bem intencionadas se não souberem dominar, precisamente, os aparelhos. O resultado, nesses casos, é apenas um, inexorável: perderem as eleições. E sem se estar no Poder, não existem reformas. A não ser, claro, através de golpes de Estado. O José Maria Aznar, lembro, é um “homem do aparelho”. O Felipe González também era. O Tony Blair é um “homem do aparelho”. A Margareth Thatcher também era. Tal como Helmut Kohl, Willie Brandt, François Mitterrand. Os aparelhos políticos são, no fundo, como as escolas de futebol dos clubes. Sem elas, não aparecem jogadores como Paulo Futre, Luís Figo, Jorge Costa, Vítor Baía, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, etc. O problema de Portugal é que as escolas dos nossos partidos não conseguem produzir craques, como fazem os clubes. Infelizmente, ao contrário do que acontece no futebol, os partidos políticos não podem contratar jovens como o Deco ou o Anderson (a simples ideia de contratar políticos no Brasil causa arrepios, convenhamos). Que os aparelhos apenas consigam produzir pessoas como José Sócrates ou Santana Lopes, diz mais sobre os aparelhos do que sobre as pessoas em questão. O problema de Portugal é que, quando precisaríamos que o PSD e o PS produzissem um Luís Figo, apenas nos oferecem Custódios.
Piazzolla com piercing

No final deste mês, tocam em Portugal os Gotan Project. Devem saber do que falo: uma banda francesa, composta por Phillip Solal, Cristoph Müller e Eduardo Makaroff, que ganharam fama internacional por “modernizar” o tango. Sinceramente, detesto os Gotan Project. Como não suporto a Mízia ou os Madredeus, exemplos acabados da tendência pós-moderna, nascida nos anos 90, que se limita a pegar em músicas tradicionais e juntar-lhes uns toques de electrónica e cosmopolitismo, receita infalível para serem servidos nas pistas de dança de Ibiza e do Lux e nos computadores dos publicitários. Esta tendência, como é óbvio, não se limita à música. Os mesmos adeptos destes “projectos” (nome apropriado, pois cada vez há menos bandas, na real e genuína acepção da palavra, mas “projectos”, construídos em laboratório com um objectivo definido, como o próprio nome indica) idolatram fraudes como o Quentin Tarantino, que fez uma carreira no cinema limitando-se a pegar em referências dos anos 60 (Sam Peckinpah, Arthur Penn, Samuel Fuller, etc, que já de si tinham aplicado a mesma receita “pós-moderna” a John Ford e Howard Hawks), baralhar e dar de novo. Para não falar do Dogma 95, com o Lard von Trier e o Thomas Vinterberg a fazerem, filme após filme, uma coisas que se poderia definir como Ingmar Bergman filmado por um daqueles adolescentes que descarregam vídeos no YouTube. Na literatura, temos os Bret Easton Ellis e os Jonathan Frazen (ainda assim, muito superior ao irritante “novo Tom Wolfe”). Na política, temos o Bloco de Esquerda, mas sobre isso é bom nem falar. Quando falham a imaginação, o talento, o sentido de tragédia, a profundidade e a inteligência, fazem-se “projectos”. Daqui a uma década, vai-se pegar nos “projectos” dos anos 90 e fazer “projectos” sobre os “projectos”. De cada vez que sai um álbum dos Gotan Project, mais me apetece ouvir Ramones.

Dulcia non meruit qui non gustavit amara

Morreu, na semana passada, William Styron. Inconstante, é certo, mas com uma noção de tragédia que poucos romancistas alcançaram no século findado. Desde obras de génio, como Lie Down in Darkness ou Set This House on Fire (para mim, um dos melhores romances da segunda metade do século XX), até ao pungente, mas sempre lúcido Darkness Visible: A Memoir of Madness (juntamente com a última obra de Harold Brodkey, This Wild Darkness: The Story of my Death, um impressionante relato, na primeira pessoa, da desagregação pessoal, dois testemunhos bem mais interessantes, porque mais honestos, do que as últimas ficções sobre o mesmo tema do Philip Roth), William Styron sempre me espantou pela sua coragem narrativa, a total falta de receio de arriscar uma frase, um parágrafo que, um adjectivo a mais, seriam redundantes ou barrocos. No fundo, William Styron foi um António Lobo Antunes; só que que bom. Cada vez há menos escritores como William Styron, que não têm medo de enfrentar grandes as grandes questões humanas: amor, morte, honra, amizade, traição, responsabilidade individual, dever social. Styron, como Shakespeare, falou sobre o Homem. E por isso é intemporal. Muito depois dos contos sobre a classe média suburbana de um John Updike terem sido esquecidas, pessoas inteligentes continuarão a admirar os romances de William Styron. Paul Bowles está morto, Richard Yates está morto, Evelyn Waugh está morto, Anthony Powell está morto, William Styron está morto. A literatura, infelizmente, está entregue a fanáticos sobrevalorizados como Thomas Pynchon. Desde a semana passada, o mundo é um local muito, muito mais pobre.

novembro 09, 2006

Meu Deus, não vejo nada!!!

O súbito arrefecimento das temperaturas na Renânia do Norte-Vestefália, na Alemanha, provocou esta semana um corte no fornecimento de energia que afectou vários países da Europa Ocidental, principalmente em Franla, mas também nalgumas zonas de Portugal. E como a Électricité de France concluiu que “não se esteve longe de um apagão a nível europeu”, vou ensinar os leitores a reagirem com calma a semelhante possibilidade.

- Estacione o seu automóvel à porta de casa e acenda os máximos. Este truque funciona, desde que a sua família consiga fazer tudo – cozinhar, dormir, necessidades, etc – no corredor. Se os ingleses conseguiram fazê-lo nos túneis do metropolitano de Londres, você também consegue;
- Por falar nisso, refugie-se nos túneis do Metro de Lisboa. Mas não entre na estação do Rossio, a não ser que saiba nadar muito bem. Uma vez nos túneis, peça conselhos de sobrevivência aos sem-abrigo que lá pernoitam constantemente. Não apenas pode aprender dicas valiosas como ajuda a elevar a auto-estima daqueles. Lembre-se: um sem-abrigo não quer o seu dinheiro, apenas quer o seu respeito (ou pelo menos é o que garantem as campanhas publicitárias);
- Acenda um Zippo em sua casa. Isto pode fazê-lo sentir-se um marine, mas resista à tentação de incendiar a garagem do seu vizinho. Por muito que se sinta um GI Joe, você não está no Vietnam.
- Por muito que admire a vida do Ernest Hemingway, não entre em desespero com a escuridão que o rodeia e espalhe os seus miolos pela parede da sala. Até porque não seria justo para com a sua mulher descer do quarto e, no meio do breu, pisar coisas esponjosas que ela poderia confundir com os restos da salada russa que comeram ao jantar;
- Dizem que Deus é luz. Caso seja ateu, converta-se ao cristianismo, judaísmo ou islamismo. Talvez valha a pena converter-se ao budismo. Apesar de os budistas não dizerem que Deus é luz, dizem que Deus é todas as coisas, pelo que, tecnicamente, para os budistas, Deus pode ser um gerador;
- Caso viva perto da fronteira com a Espanha, mergulhe toda a sua família, qual João Baptista, no Tejo, no Douro ou no Guadiana. Como as águas estão infestadas com lixo radioactivo, todos vocês vão brilhar mais do que o colecte reflector que, como bom foleiro que é, você tem pendurado no banco do lado do seu automóvel.
Oh, Paris, Paris!...

Depois do apagão da semana passada, Nicolas Sarkosy foi obrigado a reavaliar a importância social dos imigrantes de segunda geração, vulgo “escumalha”. “Quando Paris ficou completamente no breu, como a pele de um imigrante sudanês, foram as dezenas de automóveis e autocarros incendiados pelos filhos dos árabes que mantiveram Paris verdadeiramente ‘a Cidade da Luz’. Com tantas chamas em quase todos os quartiers, muitos parisienses nem sequer notaram que tinha havido um apagão. Finalmente descobri a utilidade da escumalha em França. Podem servir como uma espécie de gerador das nossas principais cidades”, concluiu o politico conservador.

novembro 03, 2006

O futuro presidente dos EUA

Quando a popularidade do George W. Bush cai mais do que as acções da ENRON, eis que os democratas tropeçam num dilema: segundo todas as sondagens, os dois candidatos liberais com mais possibilidades de conquistarem a Casa Branca são o senador Barack Obama, do Illinois, e Hillary Clinton, senadora de Nova Iorque. Ou seja, uma mulher e um negro. Durante anos os norte-americanos discutiram a possibilidade de terem, como presidente, alguém que não fosse um homem WASP (a mera existência de presidentes católicos é considerado como algo progressivo). Agora, a ficção dos filmes de Hollywood passa para a realidade e os democratas terão de escolher entre uma mulher WASP e um negro educado em Harvard (pior que tudo, entre dois advogados). O machismo suplantará o racismo? O racismo suplantará o machismo? Não sei. O mais provável é que o Partido Republicano suplante qualquer dos candidatos, caso apresente John McCain, como deveria ter feito nas últimas eleições (a diferença de qualidade, coragem e conhecimento de política mundial entre o antigo astronauta e o antigo alcoólico é enorme, semelhante à diferença de aspecto entre a Laura Bush e a Christy Turlington). Isto porque, para ganhar a Casa Branca, é necessário conquistar o centro eleitoral. E o centro eleitoral, constituído pelo norte-americano comum, o mesmo que elegeu o Arnold Schwarzenegger na Califórnia e o Jesse “Yhe Body” Ventura no Minnesota, um ex-Mister Mundo e um ex-wrestler, não vê com bons olhos ser representado por uma mulher ou por um negro. Triste? Talvez. Mas é assim mesmo.
Ainda assim, estou em crer que os norte-americanos sempre se inclinariam mais para um voto na Hillary Clinton – uma advogada liberal de Nova Iorque, conhecida por ter colhões de aço, ao estilo Margaret Thatcher – do que um negro activista dos Direitos Civis. Por um lado, desde que a popularidade de George W. Bush se esfumou, existe uma onda de revivalismo pelo ex-presidente Bill Clinton, a quem os norte-americanos já perdoaram os fellatios da Sala Oval, olhando com saudosismo para o período de paz e prosperidade económica da era Clinton (a real influência do presidente nessa conjuntura é duvidosa, mas ninguém quer saber disso; mas é compreensível, pois entre um presidente que quase não sabe falar, como George W. Bush, e um presidente que sabia literalmente de cor o The Sound And The Fury, do Faulkner, a escolha é óbvia). Por essa razão, porque os norte-americanos se sentem em dívida para com Bill Clinton, pela maneira como foi enxovalhado pelo Kenneth Star, a eleição da mulher do antigo presidente serviria, assim, para compensar Bill Clinton. Quanto a Barack Obama, para além de se assemelhar foneticamente com Osama, é negro e é activista, o que significa que tentaria compreensivelmente reformar o welfare norte-americano e transformar o Estado, tornando mais assistencialista, algo que os norte-americano comum, férreo defensor do individualismo e da responsabilidade pessoal (em resumo, do american way of life), pouco menos que despreza. Contra Barack Obama estão ainda as estatísticas e a raça. Ao contrário do que se possa pensar, não será por causa dos brancos que Barack Obama não será eleito. Isso acontecerá – num país em que os negros representas pouco mais de 12% da população e os hispânicos quase 30% - por causa das restantes minorias. O politicamente correcto é um privilégio e um luxo das classes altas. Os WASP não se importariam assim tanto em serem governados por uma espécie de Denzel Washington, a imagem que Barack Obama transmite de si mesmo, afastando-se do estilo ressabiado de um Spike Lee. Mas os hispânicos nunca o aceitariam. Nem os judeus, essenciais na recolha de fundos no Partido Democrático. Os primeiros jogam com o número de votos, os segundos jogam com a influência política e o dinheiro. Quanto aos fly-over states, os EUA rural, essenciais para se ganhar qualquer eleição, não querem nem um negro, nem uma mulher. Querem o John McCain. Ponto. Pessoalmente, acho que estes dois nomes lançados pelos democratas não passam de manobras de diversão, enquanto não escolhem um candidato masculino, caucasiano e WASP. Estivesse John F. Kennedy Jr vivo e, acreditem, a questão do candidato estaria resolvida. Mas à falta do JJ, os democratas estão condenados a encontrarem um contra-ponto ao corajoso e moderado John McCain. E nunca se pode esquecer que, para os norte-americanos, os EUA estão em guerra contra o terrorismo. E o John McCain é militar condecorado, convém não esquecer. Porém, os democratas sabem que não podem escolher uma réplica do John McCain, outro militar. A experiência com o John Kerry foi pouco menos do que catastrófica. Postas assim as coisas, o que esperar? Dos democratas? Nada. Dos republicanos? Que finalmente tenham a coragem e o bom senso de colocarem o John McCain na Casa Branca. Qualquer outro cenário não passa do guião de uma qualquer série da NBC.

novembro 02, 2006

Mullah Ribeiro e Castro

José Ribeiro e Castro começou a acertar os detalhes da campanha do “NÃO” no referendo do aborto, reunindo-se na sede da Federação Portuguesa pela Vida com as mais de 20 associações pró-vida. Para mim, Ribeiro e Casto não deve cair no erro de emular, Paulo Portas, que criou ou ajudou a criar vários movimentos pró-vida. Pelo contrário, deve apostar no modus operandis da al-Qaeda, afirmando meia dúzia de princípios conservadores e depois deixando que os apoiantes pró-vida criem as suas próprias células e delineiem, sem a sua interferência directa, mas com o seu exemplo nas mentes, as melhores maneiras de lutar contra os infiéis que querem matar fetos, à semelhança da célula de Rabat, que organizou os atentados de Madrid sem autorização ou conhecimento da al-Qaeda, mas seguindo o exemplo de Osama bin Laden. Os movimentos pró-vida poderiam assim realizar as iniciativas que bem entendessem e o Ribeiro e Castro limitar-se-ia a reivindicar a autoria moral dos acto na Rádio Renascença, tal como o Osama bin Ladem faz na Al-Jazzera, de maneira a encher os corações dos infiéis de terror. Para além disso, Ribeiro e Castro deveria pugnar por uma terceira possibilidade de resposta no referendo, podendo os portugueses assim escolher entre "SIM", "NÃO" e "NO FUCKING WAY".
AS ESCOLHAS DO PROFESSOR ELIAS

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou que os rankings das escolas, publicados por vários jornais, seriam “pobres”, uma vez que, segundo ela, é necessário fazer avaliações que tenham como critério mais do que os meros resultados dos exames. Seguindo o exemplo científico da ministra, divulgo agora os critérios utilizados para analisar cada ministério, para lá das meras notas atribuídas pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa aos respectivos ministros, tendo em vista a elaboração de um futuro ranking ministerial.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Administração Interna
O número de polícias assassinados na Amadora em 2006; a data de fabrico das armas da PSP, antes ou depois da II Guerra Mundial; o número de imigrantes ilegais actualmente escondidos nos contentores do Porto de Lisboa; o nível de agressividade de António Costa para com os autarcas nacionais; a quantidade de e-mails trocados entre o SIS e a PJ; a celeridade na naturalização de bons jogadores brasileiros a actuar no campeonato nacional.

Critérios de análise da actuação do Ministério dos Negócios Estrangeiros
A quantidade de países que não nos declararam guerra em 2006 devido à diplomacia dos nossos embaixadores; o esforço de “diplomacia económica” feito pelos nossos embaixadores; a quantidade de notícias favoráveis a Portugal nos jornais estrangeiros; a gravidade da lesão de Freitas do Amaral, causada pelo esforço de ser MNE.

Critérios de análise da actuação do Ministério das Finanças e da Administração Pública
A capacidade de apurar com rigor a quantidade de funcionários públicos que afinal de contas existem em Portugal; a quantidade de insultos dirigidos pelos funcionários públicos aos utentes das variadas repartições; os anos que os directores gerais da Administração Pública necessitam para se reformarem com valores acima dos 5000 euros.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Defesa Nacional
A quantidade pontes, viadutos, esgotos e aquedutos construídos por militares portugueses em zonas de crise mundial; a capacidade de Portugal construir uma bomba atómica em menos de 2 anos; a capacidade dos veículos anfíbios do exército se deslocarem tanto nos quartéis como nas oficinas; o plano de emergência de resposta a uma invasão espanhola.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Justiça
A quantidade de arguidos do Processo Casa Pia ainda em liberdade; a quantidade de ratazanas em cada tribunal de Primeira Estância; a altura das pilhas de processos que se acumulam nos tribunais; as décadas que cada suspeito passa em prisão preventiva antes de ser informado do crime do qual é acusado; os segundos que Vale e Azevedo passa fora da cadeia, antes de ser novamente detido.

Critérios de análise da actuação do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional
Os metros de praias algarvias que ainda não têm um Hotel Íbis; a quantidade de exemplares de espécies protegidas abatidos a tiro nas coutadas nacionais; o nível de radiação dos nossos rios; a comparação entre as nossas regiões e a Baviera e a Catalunha.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Economia e da Inovação
A altura exacta – medida em dias, minutos e segundos – em que vai acabar a crise e começar a retoma.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas
A quantidade de anos que ainda nos sobram para podermos comer bacalhau na consoada; a quantidade de antibióticos presentes nas vacas portuguesas; a quantidade de coberturas alarmistas da TVI aos fogos nas nossas florestas em 2006; a quantidade de plantações que cultivam milho transgénico, cujos grãos se transformam automaticamente, assim que aquecidos no microondas, em pipocas com sabor a laranja.

Critérios de análise da actuação do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
A quantidade de paragens que vai ter o TGV: 10, 20, 30 ou 57; a quantidade de pardais electrocutados nos fios de alta tensão espalhados pelo país; a quantidade de países que Mário Lino acredita compartilharem com Portugal uma mesma Língua.

Critérios de análise da actuação do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
A quantidade de trabalhadores que não têm um poster do Karl Marx no quarto que a CGTP consegue mobilizar para as suas manifestações; a subida do nível médio de vida na Roménia e na China.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Saúde
A quantidade de doenças contraídas por um paciente que se desloque a um hospital público para curar uma constipação; a quantidade de hipotecas que cada utente do SNS tem de fazer para poder ficar internado 7 dias num hospital público; a percentagem do salário que cada português gasta par manter a ADSE.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Educação
A quantidade de alunos portugueses que sabem calcular o troco que receberão se pagarem um café com uma moeda de um euro.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
A quantidade de galáxias descobertas por investigadores nacionais; a quantidade de cérebros e fígados nacionais que vão para o estrangeiro por ano; a quantidade de anos que faltam para Portugal colocar um português, de preferência o Francisco Louça, na lua.

Critérios de análise da actuação do Ministério da Cultura
A quantidade de teatros ocupados por companhias de teatro contemporâneas; a duração do novo filme de Manoel de Oliveira, tendo em conta o ratio entre cada minuto e os milhões de euros dos contribuintes oferecido pelo ICCAM ao cineasta; a quantidade de benefícios fiscais oferecidos ao Joe Berardo e quantos milhões de euros mais ele vai poder gastar, em virtude do acordo feito com o MC, com seu American Express.

Presidência do Conselho de Ministros
A quantidade de vezes que o salário de Pedro Silva Pereira foi multiplicado no Orçamento de Estado para 2007.
Nove semanas e meia

A questão do aborto é como uma doenças endémica: quando pensamos que acabou, eis que surge novamente. O que mais espanta neste país amorfo é que os portugueses recusam-se a debater a economia, o terrorismo, a imigração, a Europa, a nova ordem mundial. Mas quando a questão é definir as semanas necessárias para um embrião ser considerado um ser consciente, aí todos os portugueses, desde a peixeira ao tasqueiro, se metamorfoseiam em escolásticos e é vê-los esgrimir, quais Santo Agostinho, argumentos éticos e ontológicos. Um debate sobre o aborto é impossível por muitas razões. Antes de mais, por todos partem de um pressuposto politicamente correcto: “aqui ninguém é a favor do aborto”. Por uma vez, gostaria de ouvir alguém dizer “as mulheres não devem apenas ser criminalizadas, como devem arder nas chamas eternas do Inferno”. E alguém contra-argumentar “apenas as mulheres mandam no seu corpo; não há diferença entre um aborto e um piercing”. Aí sim, as águas estariam separadas. Em vez disso, debate-se o número de semanas necessárias para se considerar o embrião um ser vivo. Mas quais são os critérios para definir quando um embrião merece protecção legal? Quando dá o primeiro pontapé, qual Katsouranis, na barriga da mãe? Quando pesa mais do que um pacote de manteiga UCAL? Quando começa a gostar dos Divine Comedy? A confusão é tal que os movimentos pró-vida chegam a utilizar argumentos económicos, como a necessidade de aumentar a natalidade para sustentar a Segurança Social. Um embrião merece protecção, não porque carregue uma centelha divina, mas porque é um pagador de impostos em potência. Quem decidia quando começa a vida era o Papa. Agora é o Teixeira dos Santos. Há 30 anos, os pais esperavam até que os filhos fizessem 10 ou 11 anos para trabalharem e ajudarem economicamente a família. Agora a pressão começa logo nas 10 ou 11 semanas. A questão, como se pode ver, é espinhosa. Mas, antes de mais, convém esclarecer algo: aqui ninguém é a favor do aborto.