No final deste mês, tocam em Portugal os Gotan Project. Devem saber do que falo: uma banda francesa, composta por Phillip Solal, Cristoph Müller e Eduardo Makaroff, que ganharam fama internacional por “modernizar” o tango. Sinceramente, detesto os Gotan Project. Como não suporto a Mízia ou os Madredeus, exemplos acabados da tendência pós-moderna, nascida nos anos 90, que se limita a pegar em músicas tradicionais e juntar-lhes uns toques de electrónica e cosmopolitismo, receita infalível para serem servidos nas pistas de dança de Ibiza e do Lux e nos computadores dos publicitários. Esta tendência, como é óbvio, não se limita à música. Os mesmos adeptos destes “projectos” (nome apropriado, pois cada vez há menos bandas, na real e genuína acepção da palavra, mas “projectos”, construídos em laboratório com um objectivo definido, como o próprio nome indica) idolatram fraudes como o Quentin Tarantino, que fez uma carreira no cinema limitando-se a pegar em referências dos anos 60 (Sam Peckinpah, Arthur Penn, Samuel Fuller, etc, que já de si tinham aplicado a mesma receita “pós-moderna” a John Ford e Howard Hawks), baralhar e dar de novo. Para não falar do Dogma 95, com o Lard von Trier e o Thomas Vinterberg a fazerem, filme após filme, uma coisas que se poderia definir como Ingmar Bergman filmado por um daqueles adolescentes que descarregam vídeos no YouTube. Na literatura, temos os Bret Easton Ellis e os Jonathan Frazen (ainda assim, muito superior ao irritante “novo Tom Wolfe”). Na política, temos o Bloco de Esquerda, mas sobre isso é bom nem falar. Quando falham a imaginação, o talento, o sentido de tragédia, a profundidade e a inteligência, fazem-se “projectos”. Daqui a uma década, vai-se pegar nos “projectos” dos anos 90 e fazer “projectos” sobre os “projectos”. De cada vez que sai um álbum dos Gotan Project, mais me apetece ouvir Ramones.
novembro 16, 2006
Piazzolla com piercing
No final deste mês, tocam em Portugal os Gotan Project. Devem saber do que falo: uma banda francesa, composta por Phillip Solal, Cristoph Müller e Eduardo Makaroff, que ganharam fama internacional por “modernizar” o tango. Sinceramente, detesto os Gotan Project. Como não suporto a Mízia ou os Madredeus, exemplos acabados da tendência pós-moderna, nascida nos anos 90, que se limita a pegar em músicas tradicionais e juntar-lhes uns toques de electrónica e cosmopolitismo, receita infalível para serem servidos nas pistas de dança de Ibiza e do Lux e nos computadores dos publicitários. Esta tendência, como é óbvio, não se limita à música. Os mesmos adeptos destes “projectos” (nome apropriado, pois cada vez há menos bandas, na real e genuína acepção da palavra, mas “projectos”, construídos em laboratório com um objectivo definido, como o próprio nome indica) idolatram fraudes como o Quentin Tarantino, que fez uma carreira no cinema limitando-se a pegar em referências dos anos 60 (Sam Peckinpah, Arthur Penn, Samuel Fuller, etc, que já de si tinham aplicado a mesma receita “pós-moderna” a John Ford e Howard Hawks), baralhar e dar de novo. Para não falar do Dogma 95, com o Lard von Trier e o Thomas Vinterberg a fazerem, filme após filme, uma coisas que se poderia definir como Ingmar Bergman filmado por um daqueles adolescentes que descarregam vídeos no YouTube. Na literatura, temos os Bret Easton Ellis e os Jonathan Frazen (ainda assim, muito superior ao irritante “novo Tom Wolfe”). Na política, temos o Bloco de Esquerda, mas sobre isso é bom nem falar. Quando falham a imaginação, o talento, o sentido de tragédia, a profundidade e a inteligência, fazem-se “projectos”. Daqui a uma década, vai-se pegar nos “projectos” dos anos 90 e fazer “projectos” sobre os “projectos”. De cada vez que sai um álbum dos Gotan Project, mais me apetece ouvir Ramones.
No final deste mês, tocam em Portugal os Gotan Project. Devem saber do que falo: uma banda francesa, composta por Phillip Solal, Cristoph Müller e Eduardo Makaroff, que ganharam fama internacional por “modernizar” o tango. Sinceramente, detesto os Gotan Project. Como não suporto a Mízia ou os Madredeus, exemplos acabados da tendência pós-moderna, nascida nos anos 90, que se limita a pegar em músicas tradicionais e juntar-lhes uns toques de electrónica e cosmopolitismo, receita infalível para serem servidos nas pistas de dança de Ibiza e do Lux e nos computadores dos publicitários. Esta tendência, como é óbvio, não se limita à música. Os mesmos adeptos destes “projectos” (nome apropriado, pois cada vez há menos bandas, na real e genuína acepção da palavra, mas “projectos”, construídos em laboratório com um objectivo definido, como o próprio nome indica) idolatram fraudes como o Quentin Tarantino, que fez uma carreira no cinema limitando-se a pegar em referências dos anos 60 (Sam Peckinpah, Arthur Penn, Samuel Fuller, etc, que já de si tinham aplicado a mesma receita “pós-moderna” a John Ford e Howard Hawks), baralhar e dar de novo. Para não falar do Dogma 95, com o Lard von Trier e o Thomas Vinterberg a fazerem, filme após filme, uma coisas que se poderia definir como Ingmar Bergman filmado por um daqueles adolescentes que descarregam vídeos no YouTube. Na literatura, temos os Bret Easton Ellis e os Jonathan Frazen (ainda assim, muito superior ao irritante “novo Tom Wolfe”). Na política, temos o Bloco de Esquerda, mas sobre isso é bom nem falar. Quando falham a imaginação, o talento, o sentido de tragédia, a profundidade e a inteligência, fazem-se “projectos”. Daqui a uma década, vai-se pegar nos “projectos” dos anos 90 e fazer “projectos” sobre os “projectos”. De cada vez que sai um álbum dos Gotan Project, mais me apetece ouvir Ramones.
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