O que o PSD e o PS querem ser, quando forem grandes:
Pedro Santana Lopes publicou mais uma obra laudatória, “Percepções e Realidade”, que provoca mais uma discussão sobre os méritos e defeitos do homem. Para os seus apoiantes, Santana Lopes é a lufada de ar fresco numa política dominada por pessoas como o Jorge Coelhos e o Marques Mendes, homens do aparelho. Para os seus detractores, Santana Lopes é o exemplo acabado do “homem do aparelho”, a pessoas que nunca fez mais nada na vida a não ser colar cartazes do PPD, primeiro, e do PSD, depois. O que é verdade. A minha questão é só uma: qual é o exactamente o problema em se ser um “homem do aparelho”? Cavaco Silva é um “homem do aparelho”, António Guterres é um “homem do aparelho”, Jorge Sampaio é um “homem do aparelho”, Durão Barroso é um “homem do aparelho”, José Sócrates é um “homem do aparelho”, Mário Soares apenas não é um “homem do aparelho” porque Mário Soares criou o aparelho socialista. Desde o 25 de Abril, Portugal foi governado por “homens do aparelho”, à excepção de Francisco Sá Carneiro. Mas Sá Carneiro morreu jovem e não se pode, em propriedade, afirmar o que seria Portugal ou o PSD se ele não tivesse embarcado naquele avião. Ramalho Eanes, sem dúvida alguma, não era um “homem do aparelho”. E isso foi bom? Duvido. Foi essencial na transição de Portugal para a democracia, sem senhor. Mas politicamente foi uma nódoa. Deixou-se tentar pelo mítico “partido presidencialista”, o PRD, e foi o que se viu. Abriu caminho ao “homem do aparelho” Cavaco Silva. De cada vez que se temos eleições, volta à baila a suposta necessidade de vir “gente de fora”, “pessoas que não sejam políticos profissionais” e semelhantes delírios. Qualquer pessoa de bom sendo sorriria se o BPI nomeasse para CEO uma “pessoa de fora”, um cozinheiro, digamos, por muita boa pessoa que fosse. Basta lembrar o que aconteceu com a Selecção Nacional em 1986, no Mundial do México, quando abdicámos de levar um treinador para levarmos quatro pessoas “de fora do futebol”, muito bem intencionadas, engenheiros e etc, para conduzir a equipa. Para se exercer o que quer que seja, é necessário experiência e formação técnica. A política não é uma excepção, antes pelo contrário. Não adiante de nada termos pessoas bem intencionadas se não souberem dominar, precisamente, os aparelhos. O resultado, nesses casos, é apenas um, inexorável: perderem as eleições. E sem se estar no Poder, não existem reformas. A não ser, claro, através de golpes de Estado. O José Maria Aznar, lembro, é um “homem do aparelho”. O Felipe González também era. O Tony Blair é um “homem do aparelho”. A Margareth Thatcher também era. Tal como Helmut Kohl, Willie Brandt, François Mitterrand. Os aparelhos políticos são, no fundo, como as escolas de futebol dos clubes. Sem elas, não aparecem jogadores como Paulo Futre, Luís Figo, Jorge Costa, Vítor Baía, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, etc. O problema de Portugal é que as escolas dos nossos partidos não conseguem produzir craques, como fazem os clubes. Infelizmente, ao contrário do que acontece no futebol, os partidos políticos não podem contratar jovens como o Deco ou o Anderson (a simples ideia de contratar políticos no Brasil causa arrepios, convenhamos). Que os aparelhos apenas consigam produzir pessoas como José Sócrates ou Santana Lopes, diz mais sobre os aparelhos do que sobre as pessoas em questão. O problema de Portugal é que, quando precisaríamos que o PSD e o PS produzissem um Luís Figo, apenas nos oferecem Custódios.
novembro 16, 2006
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