novembro 16, 2006
Dulcia non meruit qui non gustavit amara
Morreu, na semana passada, William Styron. Inconstante, é certo, mas com uma noção de tragédia que poucos romancistas alcançaram no século findado. Desde obras de génio, como Lie Down in Darkness ou Set This House on Fire (para mim, um dos melhores romances da segunda metade do século XX), até ao pungente, mas sempre lúcido Darkness Visible: A Memoir of Madness (juntamente com a última obra de Harold Brodkey, This Wild Darkness: The Story of my Death, um impressionante relato, na primeira pessoa, da desagregação pessoal, dois testemunhos bem mais interessantes, porque mais honestos, do que as últimas ficções sobre o mesmo tema do Philip Roth), William Styron sempre me espantou pela sua coragem narrativa, a total falta de receio de arriscar uma frase, um parágrafo que, um adjectivo a mais, seriam redundantes ou barrocos. No fundo, William Styron foi um António Lobo Antunes; só que que bom. Cada vez há menos escritores como William Styron, que não têm medo de enfrentar grandes as grandes questões humanas: amor, morte, honra, amizade, traição, responsabilidade individual, dever social. Styron, como Shakespeare, falou sobre o Homem. E por isso é intemporal. Muito depois dos contos sobre a classe média suburbana de um John Updike terem sido esquecidas, pessoas inteligentes continuarão a admirar os romances de William Styron. Paul Bowles está morto, Richard Yates está morto, Evelyn Waugh está morto, Anthony Powell está morto, William Styron está morto. A literatura, infelizmente, está entregue a fanáticos sobrevalorizados como Thomas Pynchon. Desde a semana passada, o mundo é um local muito, muito mais pobre.
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