maio 10, 2008

Os português vibram com o “Apito Final”...




“God, I know we are your chosen people,
but couldn't you choose somebody else for a change?”

Shalom Aleichem








Admito: sou um portista assumido. Por isso vejo com desprezo a onda de rejubilo que correu o País com os resultados do “Apito Final”. E percebo finalmente o nome que o Conselho Disciplinar da Liga de Clubes escolheu para a “operação”. De facto, “Apito Final” soa muito a “Solução Final”, temos de convir. E baseia-se no mesmo pressupostos. Adolf Hitler e os seus acólitos pensaram, com a “Solução Final”, resolver de uma vez por todas o, para eles, maior problema do regime, do Reich, do mundo, da estabilidade molecular dos cosmos: os judeus. Para os nazis, os judeus eram um povo imundo, cujas manobras de bastidores faziam com que controlassem as finanças de todos os países ocidentais e fossem, portanto, um risco para a civilização e para a Humanidade (da qual, obviamente, não fariam sequer parte, tecnicamente). Que os judeus fossem, de facto, mestres da finança porque, durante toda a Idade Média, estivessem proibidos de ter terrenos e portanto de se dedicarem à agricultura, a única forma de subsistência que na altura havia a quem não fosse nobre (que os judeus não eram, evidentemente), não interessou a Adolf Hitler ou aos alemães. Os judeus praticamente inventaram a finança moderna porque não tinham outra solução, e porque a Tora não proíbe a usura, ao contrário do Novo Testamento. Para os nazis, tudo isso eram pormenores sem relevância: os judeus eram culpados de tudo, ponto final, desde a decadência económica da Alemanha à baixa estatura do seu líder. Deviam portanto ser eliminados, com a famosa “Solução Final”. Com o “Apito Final” passa-se algo semelhante. Toda a gente sabe que se o Benfica, o Sporting e, no fundo, todos os clubes de futebol portugueses não são campeões nacionais, é porque existe um clube cujas manobras de bastidores fazem com que controle o “futebol nacional” e que, portanto, deve ser eliminado. O presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes (de cuja eleição Luís Filipe Vieira se gabou, dizendo que, com ele no poleiro, o Benfica não necessitava sequer de contratar bons jogadores) foi claro: por ele, o FC Porto não perdia apenas seis pontos. Não senhor. O senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes queria o que quase todos os portugueses querem: que o FC Porto fosse relegado à Liga de Honra. No mínimo. Com todos os judeus mortos, os empregos voltariam a ser ocupados pelos alemães a riqueza por eles distribuída. Com o FC Porto na Liga de Honra ou nas distritais (ou dissolvido, como se nota perfeitamente que era o desejo do senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes), os benfiquistas poderiam voltar a ganhar campeonatos e a acederem à riqueza da Champions League. Mas que provas tinha Adolf Hitler do que dizia sobre os judeus? Nenhuma. E que provas tem o senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes do que diz sobre o FC Porto? Nenhuma. Ao contrário do que defendem o presidente, adeptos e comentadores afectos ao Benfica, é do mais elementar bom senso que qualquer deliberação do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes apenas poderia ser feito após o processo “Apito Dourado” transitar em julgado. Porque vamos lá ver uma coisa: em que é que se baseiam os castigos aplicados ao FC Porto e Boavista? Nas escutas realizadas pelo Ministério Público da senhora Maria José Morgado, que está para o futebol nacional como a Leni Riefenstahl esteve para o regime nazi. A única base probatória têm necessariamente de ser as escutas do MP, porque, que eu saiba, o Conselho de Disciplina da Liga de Clubes não tem meios de investigação próprios, embora obviamente almejasse ser uma Gestapo do futebol português. Mas não é. A outra opção seriam as testemunhas. Infelizmente para o Conselho de Disciplina da Liga de Clubes, estas não existem. Os testemunhos dos árbitros e especialistas em arbitragem no tribunal têm sido completamente disparatados (como seria de prever: uma coisa é provar em tribunal que se praticou um homicídio por negligência ou por premeditação, outra coisa é provar que um árbitro não admoestou um jogador com um segundo cartão amarelo por carga sobre o adversário porque não viu bem o lance, entendeu que a carga não justificava a admoestação ou porque tinha dois fios de ouro, oferecidos pelo Pinto da Costa, no bolso dos calções). Mas a questão que mais urge é a seguinte: de que escutas está o senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes a falar? Daquelas que o MP fez e que estão em segredo de justiça? Porque a questão é obviamente esta: ou as escutas estão em segredo de justiça ou não estão. E, estando em segredo de justiça, não entendo como é que o senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes teve acesso a elas. Portanto, das duas uma: ou o acesso às escutas foi facultado pelo próprio MP (o que, sendo o processo liderado pela inefável Joana D’Arc que sabemos é bem possível) ou o senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes baseou as suas sentenças nas escutas que todos nós conhecemos, as que o “Correio da Manhã”, através de “fugas de informação” (leia-se: informações passadas à comunicação social pelo próprio MP quando este não consegue arranjar matéria probatória e portanto, certo como está da culpabilidade dos suspeitos, os prefere incriminar em praça pública, deixando a justiça popular, através do opróbrio da suspeita perpétua, fazer o que o MP, por incompetência ou puro e simples erro de julgamento na acusação, não consegue) do MP, conseguiu arrebanhar. E mesmo que o senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes tivesse esperado pelo transitado em julgado do processo “Apito Dourado”, as dúvidas sobre o “Apito Final” continuariam, pelo simples facto de que as escutas em causa não são todas as que o MP realizou. Todos sabemos o que se passou, o MP tem na sua posse escutas nas quais participa o presidente do Benfica, uma das quais, por exemplo, mostra inequivocamente o Luís Filipe Vieira a influenciar o Valentim Loureiro não nomeação de um árbitro para a final da Taça de Portugal. Mas, atenção, essa escuta não foi realizada ao telemóvel de Luís Filipe Vieira, antes ao de Valentim Loureiro. E o que fez o MP quando apanhou em flagrante o presidente do Benfica num acto de tráfico de influências? Alargou o processo “Apito Dourado” ao Luís Filipe Vieira, colocando-lhe o telemóvel igualmente sob escuta. Não. Maria José Morgado não considerou “relevante” a escuta realizada a Valentim Loureiro. Aquela escuta em particular. E assim Luís Filipe Vieira, e o Benfica, ficaram de fora do processo, razão, talvez, por que o Luís Filipe Vieira tanto o elogia e lembra. Isto, meus amigos, não é verdadeira matéria probatória, uma vez que clara e flagrantemente não é apurada de boa fé. Isto é um processo dirigido em que o MP está convicto de uma tese e molda a matéria probatória às suas convicções. Já vimos este modus operandi noutros processos. Aliás, este é o modus operandi típico do MP. Digo mais, este é o modus operandi típico de uma instituição estatutariamente aberrante, que têm a seu cargo a acusação pública e a investigação ao mesmo tempo. O MP, lembro, não investiga imparcialmente. Isso apenas seria possível a uma instituição como a Polícia Judiciária, à qual apenas competiria investigar um assunto e, somente depois, entregar as suas conclusões a outra instituição que, com os resultados da investigação, decidisse se as suas suspeitas se confirmavam ou não. O que acontece em Portugal é que as mesmas pessoas que estão convictas da culpabilidade dos suspeitos e mandatadas para os levar a tribunal investigam os próprios suspeitos. O que faz com que todos os processos estejam inquinados desde o início. Quem ouve as declarações públicas da senhora Maria José Morgado percebe claramente que ela está convicta de que o Pinto da Costa é uma figura sinistra, que os grandes banqueiros são todos figuras sinistras, que todas as pessoas que ela investiga são pessoas sinistras, e que portanto nenhuma delas merece ser considerada inocente até prova em contrário. Ficamos assim que o “Apito Final” é baseado em material probatório suspeitamente conseguido ao qual o Conselho de Disciplina da Liga de Clubes nunca poderia, sequer, ter legalmente acesso. Isto é justiça? Não, não é. A justiça vai ser feita? Não, não vai. Porque esta é a razão de todo o apressado e absurdo “Apito Final”. O MP sabe que não vai conseguir condenações no processo “”Apito Dourado”, por isso delega ao Conselho de Disciplina da Liga de Clubes a condenação em praça pública dos implicados. Por esta razão, concordo com o Rui Moreira: o FC Porto devia recorrer dos seis pontos de penalização. Aliás, não faz sentido sequer não recorrer. Se o FC Porto recorre da suspensão do Jorge Nuno Pinto da Costa, é porque está convicto que o presidente do FC Porto está inocente das acusações que lhe são imputadas. Se o FC Porto está convicto da injustiça dessas acusações, tem de recorrer da sentença aplacada ao próprio clube. Eu até percebo a lógica do FC Porto, que deriva da minha: o Conselho de Disciplina da Liga de Clubes apenas quer culpabilizar o FC Porto, seja como for, por isso é irrelevante recorrer de uma sentença que, apesar de absurda, vai sempre ser confirmada. Por isso, como seis pontos de penalização não influenciam em nada a classificação da época 2007/2008, aceita-se a sentença, porque recorrer dela significaria que transitaria para a época 2008/2009, na qual o FC Porto não sabe se precisará ou não desses seis pontos para se sagrar campeão nacional. Em termos tácticos ou simplesmente realistas, esta atitude tem lógica. Mas em termos éticos, não tem ponta por onde se lhe pegue. Se o FC Porto está inocente, deve defender-se até à última instância, mesmo que a sentença já tivesse sido escrita ainda antes de deduzida a acusação, como é o caso. É um mera questão de moral. E lembro que os judeus que, por táctica e realismo, colaboraram com os nazis, também acabaram nas câmaras de gás. Com o diabo não se negoceia, porque ele ganha sempre. O que se faz é lutar, e cair em pé. O FC Porto, com esta atitude, mostra apenas que pretende cobardemente entrar no jogo de quem o quer destruir. O que levará, mais cedo ou mais tarde, à sua destruição. A solução: recorrer da sentença, sempre. Até por razões tácticas. O processo “Apito Dourado”, estou convencido, não vai dar em nada (se não acredito minimamente na idoneidade do MP, ainda acredito na idoneidade dos nossos juízes, ainda que nem sempre na competência destes, o que é diferente). E queria ver como uma sentença dos nossos tribunais ilibaria o FC Porto enquanto outra sentença, baseada na mesma matéria probatória, o culpabilizaria. O que eu queria ver é como se justificaria o facto de o Conselho de Disciplina da Liga de Clubes se substituir às únicas instituições que em Portugal e em qualquer país civilizado tem o privilégio de administrar a Justiça: os tribunais. E o recurso, aí, não seria ao senhor Gilberto Madaíl, mas às instancias judiciais da União Europeia. Quem tem a razão do seu lado, não deve temer ninguém. Seja Adolf Hitler, Maria José Morgado ou o senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes.

PS: Do que se sabe das escutas realizadas no âmbito do processo “Apito Dourado”, as acusações a Valentim Loureiro seriam sempre sobre benefícios ao Gondomar FC. No entanto, com base nessas escutas, quem o Conselho de Disciplina da Liga de Clubes decide que deve descer de divisão é o Boavista. O mesmo Boavista que é a face mais visível dos escândalo dos salários em atraso no futebol nacional, que, segundo o Sindicato dos Jogadores, atinge a esmagadora maioria dos clubes da primeira divisão. Estatutariamente, o Conselho de Disciplina da Liga de Clubes estaria obrigado a despromover à Liga de Honra 18 clubes (duvido que o Sporting tenha salários em atraso, isso é impossível num clube de alto nível, com estrelas ou pseudo-estrelas que, assim que não vissem os milhões que ganham por mês depositados nas suas contas, tratariam logo de armar um escândalo e, na semana seguinte, estarem a jogar num Manchester United ou num Sevilha, mas enfim...). como isso é impraticável, desce-se de divisão o Boavista por outras razões, para não criar precedência e assim abrir uma caixa de Pandora que acabaria com o futebol profissional em Portugal, e por inerência com o poder do senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes e do senhor Gilberto Madaíl e quejandos, e já está. O senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes pensa obviamente que ninguém nota isto. O senhor presidente do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes claramente não percebe nada de História e não aprendeu nada com o exemplo dos nazis: os estúpidos, por muito tempo que ganhem, acabam sempre por perder.

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