maio 24, 2007

De nada, Jimmy!

Acabei de receber o seguinte e-mail na caixa de correio do meu blogue:

Keep up the good work nexium cheap Contemporary flooring interior design shirt http://www.patent-info.info celebrex Home air purifier 2ccleaner air hepa purifier consumer Cobra+radar+detector+xrs9700 Buy titleist golf ball Femdom rickshaw boy Custom watches for wedding

Devido à linguagem utilizada, em corrente de consciência, e ao nome da pessoa, Anonymus, com claras ressonâncias latinas, apenas posso concluir uma coisa: o meu blogue é tão bom que até o James Joyce o lê.
Um Émile Zola em cada jornalista português

O caso DREN, a liberdade de expressão, blá, blá, blá. Não se tem ouvido outra coisa nos últimos dias. O problema não está na excelentíssima directora da DREN. O problema, se me permitem, está na inocência do professor suspenso, que pensou que estava no restaurante O Barbas. A inocência é quanto mais grave quanto o referido professor já foi deputado do PSD. Os jornais clamam e não não entendem como é possível que tal episódio ocorra na função pública. Precisamente, o episódio apenas poderia ocorrer na função pública. Quem quer que leia as palavras dos jornalistas portugueses (um inglês que esteja na praia da Luz para linchar o Robert Murat, por exemplo) fica com a impressão que esta é uma máquina burocrática independente do poder político. Não é. Nunca foi. Nunca há-de ser. Os directores da DRE são, como toda a gente sabe, cargos de nomeação política. Tal como os directores que milhares, milhões de outras delegações, direcções-gerais, institutos, empresas dependentes do Estado. A DREN não serve para servir a educação no Norte do país. A DREN serve para servir o Ministério da Educação. A directora da DREN, nomeada por este Ministério da Educação, perseguiu, enxovalhou e demitiu um ex-deputado do PSD?! Meu Deus, em que mundo é que nós vivemos?! Que função pública é esta?! É a que temos desde o Estado Novo, que o PREC manteve igual, que o Bloco Central manteve igual, que todos os Governos democraticamente eleitos mantiveram igual, porque lhes convêm. O escândalo não é que um episódio destes aconteça. O escândalo é que um episódio destes seja, para os jornais, um escândalo.
Qual George Steiner, qual quê!

Que o Mário Lino esqueceu as suas raízes proto-comunistas já se sabia, ainda que se possa maldosamente encontrar, no seu iberismo, resquícios do universalismo comunista de Marx. Mas se dúvidas houvessem, eis que Mário Lino as dissipa esta semana. Para ele, a Margem Sul não tem cidades, não tem escolas, não tem hospitais, não tem hotéis, não tem comércio, não tem habitantes. Numa palavra, não tem vida. Nada. Zero (faz pensar para que é que serve a Ponte 25 de Abril, afinal de contas). Para ele, a Margem Sul é, passo a citar, “um Sahara”. De uma penada, Mário Lino acaba com dezenas de anos de hagiografia neo-realista marxista, segundo a qual, na cartilha de Soeiro Pereira Gomes, a Margem Sul pululava de pulsão de vida, crianças sonhadoras e descalças, homens honrados com graxa na cara, mulheres esforçadas que acumulavam o trabalho na fábrica e a educação da prole sonhadora e descalça, relações de solidariedade social no meio das pracetas anónimas, enfim, o Portugal mais profundo e verdadeiro. Afinal, tudo é mentira. Nem crianças sonhadoras, nem proletários, nem mães coragem, nem nada. Um Sahara. E no meio, quando muito, quais berberes, os Da Weasel a tocar as suas cantilenas. O que Mário Lino diz é que todos esses romances neo-realistas execráveis, afinal de contas, eram a mais pura ficção. Soeiro Pereira Gomes não se limitava a relatar, em linguagem sofrível, aquilo que via pela janela. Não senhor, Soeiro Pereira Gomes e companhia criaram um mundo imaginário, rico e complexo, tal como William Faulkner fez, quando criou o Yoknapatawpha County. O aeroporto até pode ser construído na Ota para cumprir um desejo pessoal do Mário Lino, já não me importa. O que eu sei é que passei anos a pensar que a literatura nacional do século XX apenas tinha produzido um talento razoável, Vitorino Nemésio, para descobrir, graças ao Mário Lino, que afinal produziu um génio universal, Soeiro Pereira Gomes. O que prova que Mário Lino está mal aproveitado. O seu lugar é no Ministério da Cultura.
O pecado capital de Carmona Rodrigues

E pronto, o Carmona caiu. Eu apoiei o Carmona Rodrigues nas últimas eleições autárquicas, não porque nutra uma imensa simpatia pelo homem, o exemplo acabado do tecnocrata quer nunca deveria entrar na política, mas porque antipatizo profunda, visceralmente com o Manuel Maria Carrilho, o maior bluff da cultura nacional, a prova acabada da origem das espécies proposta por Darwin (quando se ouve o Carrilho falar, até o mais fanático criacionista fica convencido de que descendemos, de facto, dos macacos). O caso Bragaparques está demasiadamente mal esclarecido para ter uma opinião formada sobre a influência do engenheiro Carmona Rodrigues nele. Tenho uma opinião, isso sim, sobre a maneira politicamente desastrosa como o geriu (é o que dá apoiar tecnocratas, tique que nos chegou do PREC e das experiências de auto-gestão, que levaram, como se lembram, uma espécie de junta de salvação nacional, formada por engenheiros, arquitectos, etc, numa palavra, gente de bem, a seleccionadores nacionais no Mundial do México, em 1986, com o resultado que se sabe). Mas existe uma razão para eu censurar Carmona Rodrigues e não apoiar a sua reeleição. O homem ainda não pagou uns tostões que a CML deve à Maria Lopo de Carvalho, que tem alguma espécie de empresa de prestação de serviços (leia-se, aulas de Inglês) a 11 agrupamentos escolares da região. Ela estrebucha, talvez com razão. O problema, o que eu não posso perdoar ao engenheiro Carmona Rodrigues, é que o facto de se encontrar mal de finanças possa levar Maria Lopo de Carvalho a virar-se para a sua segunda fonte de rendimentos: a literatura. Por mim, não me importo de saber que uma ínfima parte dos meus impostos acabam no bolso da Maria Lopo de Carvalho, se isso significar que a senhora permanece entretida a brincar aos CEO e não escreve coisas como “Adopta-me”, “Palavra de Mulher”, “Que bicho te mordeu?” ou essa espantosa obra-prima da literatura naif (escola criada pela própria escritora), “A Minha Mãe é a Melhor do Mundo”. Os prédios históricos podem cair, o trânsito na cidade pode ser caótico, é normal, mas se um grupo de autarcas não consegue fazer uma coisa tão simples como impedir que escritores medíocres exerçam o seu ofício, então para que serve? Se o António Costa pagar a dívida pendente da CML à Maria Lopo de Carvalho, tem o meu voto.