junho 17, 2008

Pode beijar a noiva
















Daqui a quatro dias vou casar. Entretanto, a minha casa está metamorfoseada num autêntico estaleiro de obras. Quando oiço os dois moldavos falarem, o Nikolai e o seu sobrinho Vassili, quase que posso imaginar que estou no estaleiro da baía do Tendra, ouvindo o Vakulintchuk e o Matiuchenko, os dois marujos do ‘Couraçado Potemkin’. Um negro que apareceu no meio da obra, e que se assemelha exemplarmente ao Dave Chappelle quando imita o Prince ou quando interpreta um proxeneta, passa oa dias a beber cerveja, vinho, aguardente, e a dizer que, quando terminar a obra (que já devia ter terminado há um mês) estou a dever-lhe um borrego assado, no terraço que, pelo que percebi, ele não ajudou em nada a construir. Minto. Não passa os dias a beber. Passa os dias a beber e a tratar os outros três angolanos por ‘macacos’, porque ele é de Luanda e os outros são, e passo a citar, ‘do capim’. Ri-se alarvemente e, parecendo apostado em confirmar todos os estereótipos, até chegou a fazer frango frito na minha cozinha. Só faltou mesmo comer melancia. Os moldavos trabalham, trabalham e trabalham, mostrando um ética laboral que apenas me faz temer pelo pior por Portugal quando a Moldávia e a Ucrânia entrarem para a UE. Pelo pior, não porque tenha medo que eles, trabalhadores exemplares, fiquem com os empregos dos portugueses. Pelo que vi, um saber de experiencia feito, como diria o zarolho, quem me dera ter moldavos nas repartições públicas, nas empresas e no Governo nacional. Temo pelo nosso País porque, assim que a Moldávia entrar para a UE e consiga sair da cepa torta, todos os imigrantes que trabalham em Portugal vão voltar para o país de origem e vamos ter de nos contentar com os portugueses e com os nossos ‘irmãos’ angolanos. Nem quero pensar nisso. Mas voltando ao assunto principal: o casório. Não é propriamente para ficar nervoso, porque já vivemos juntos há três anos. Mas é engraçado como eu sempre pensei neste dia, quando era criança, como o dia em que passaria definitivamente a ser adulto. Não era o dia que eu mais aguardava e com o qual sonhava, obviamente. Esse privilégio estava reservado ao dia em que fizesse 16 anos e pudesse jogar snooker nos cafés sem receio de ser corrido a pontapé por algum agente da PSP (sobre a minha adoração por snooker hei-de escrever um dia). Mas sempre que olhava para a fotografia do casamento dos meus pais sentia-me algo expectante. Na fotografia, a preto-e-branco, os dois estão rodeados de populares que parecem saídos de um filme sobre a máfia. O meu pai, ainda magro, exemplarmente vestido e penteado, fato preto, camisa branca e gravata curta, parece o Dean Martin. E sempre foi assim que eu imaginei que seria o meu casamento. Mas não. Para começar, vou com um fato da Sixty branco que me vai fazer parecer o Morrisey. Em segundo lugar, vai ser coisa só para a família mas próxima e alguns colegas de trabalho. Infelizmente, não vou poder ter os meus amigos mais antigos cá, mas eles andam espalhados por esse País foram. Quanto aos comes e bebes, vão ser num dos mais conceituados restaurantes alentejanos, com cujo dono me tenho epicamente embebedado nas últimas semanas. Quanto ao acto de casar, vai ser na sala da nossa casa, que por agora parece um armazém, numa mesa rústica, bela, que parece saída da nau do Cristóvão Colombo. Um mimo. Não vai ser o casamento que eu pensava, em criança, que seria, vai ser melhor (se as obras acabarem a tempo). Porque as pessoas mudam e tudo acontece mais naturalmente. Deixaram de existir grandes momentos decisivos, tudo corre com naturalidade. Tenho saudades do tempo em que pensava que um dia, um acontecimento, podiam mudar tudo. Hoje sei que não é assim. Mas o que eu quero do casamento é precisamente isso: que não mude nada. Se tudo continuar com tem estado nos últimos três anos, até bater a bota, vou ser uma pessoa imensamente feliz. A minha mulher vai com um vestido igual ao da Marilyn Monroe no ‘The Seven Year Inch’, que posso mais pedir? Ah, já sei: percebes húmidos e salgados, a saber a mar. Disso vou tratar na lua-de-mel.

3 comentários:

Anónimo disse...

Toda la Suerte del Mundo al Nuevo Matrimonio.....!!!!

Moses E. Herzog disse...

Gracias, amigo! Y a ver lo que España hace ante Russia (yo he estado sin ler a los periódicos nin ver a la tele y fue con estupfactíon que me entere que Russia e Turquia estan em semifinales de la Eurocopa, pero, a ver...)!

Anónimo disse...

Gracias por tus buenos deseos para la Selección Nacional.
Un abrazo