agosto 10, 2007

"Doh!" digo eu

Em tudo o que é jornal ou blogue, vejo comentários laudatórios ao “Simpsons – The Movie”. Ainda não vi o filme. Ou melhor, não vou ver o filme. Nunca percebi muito bem o fenómeno Simpsons (nisto, discordo do meu colega Nuno Markl). Sim, a série é bem escrita. Sim, os bonecos amarelos criticam a sociedade norte-americana contemporânea de uma maneira arejada. Sim, as referências culturais da série são por vezes bem esgalhadas. Mas nada do que foi feito até agora nos Simpsons se aproxima sequer àquela que, para mim, é e sempre será a melhor série de comédia de sempre: All In The Family. Aliás, todo o núcleo familiar dos Simpsons é claramente inspirados nas personagens da mítica sitcom na CBS. Se juntarem short minded atitude do Homer e o mau feitio do Bart, têm o Archie Bunker. Se juntarem os bons sentimentos da Glória e a inclinação liberal de Esquerda do Michael Stivic têm a Lisa Simpson. E mulher do Homer não passa de uma Edith Bunker um pouco menos lerda. Até o famoso sofá onde o Bart Simpson passa a vida é igual à mítica poltrona do Archie Bunker, que está exposta – como são diferentes os museus norte-americanos dos portugueses – no Smithsonian Institution (não estou a acusar os Simpsons de plágio, tudo isto é mais ou menos assumido pelo próprio Matt Groening, que fez mesmo, ao que sei, um episódio dos Simpsons dedicado ao All In The Family). Acontece que uma coisa é falar de homossexualidade, droga, álcool e preconceitos raciais em meados dos anos 80, quando começou os Simpsons, altura em que tudo era possível (se não acreditam, vejam o delirante Bachelor Party, de 1984, em que o Tom Hanks acaba enfiado numa orgia de sexo, álcool e drogas com um burro). Outra coisa é fazê-lo no início dos anos 70. Para mais, em termos de politicamente correcto, o Bart Simpson, comparado com o Archie Bunker, é o Daniel Sampaio (amarelos por amarelos, fico com o Duckman, esse pato detective que faria corar de vergonha o próprio Dave Chapelle, a única série de animação que adorei desde que deixei de ser criança). Querem perceber a diferença entre os Simpsons e o All In The Family. O Homer Simpson passa os episódios a dizer “doh!”. O Archie Bunker passa os episódios a dizer coisas como “the atheist religion don't believe in the bible” ou – preparem-se para Archie Bunker no seu melhor - “California is the home of where is gonna occur the world's worst cat-a-strofe… sittin' on a shelf out there… three states on that shelf, California, Oregon and Missouri. The day of the biggest earthquake… those three states are gonna be shoved right offa that shelf there. They call that the 'Continental Divide'. The Pope knew about this years ago. He said it was St. Andrew's fault”. Rest my briefcase, como diria o velho Archie.

PS: Para perceberem um pouco melhor a minha adoração por All In The Family, vejam, por exemplo, isto. Nem o Howard Hawks no Is Girl Friday faria melhor.

maio 24, 2007

De nada, Jimmy!

Acabei de receber o seguinte e-mail na caixa de correio do meu blogue:

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Devido à linguagem utilizada, em corrente de consciência, e ao nome da pessoa, Anonymus, com claras ressonâncias latinas, apenas posso concluir uma coisa: o meu blogue é tão bom que até o James Joyce o lê.
Um Émile Zola em cada jornalista português

O caso DREN, a liberdade de expressão, blá, blá, blá. Não se tem ouvido outra coisa nos últimos dias. O problema não está na excelentíssima directora da DREN. O problema, se me permitem, está na inocência do professor suspenso, que pensou que estava no restaurante O Barbas. A inocência é quanto mais grave quanto o referido professor já foi deputado do PSD. Os jornais clamam e não não entendem como é possível que tal episódio ocorra na função pública. Precisamente, o episódio apenas poderia ocorrer na função pública. Quem quer que leia as palavras dos jornalistas portugueses (um inglês que esteja na praia da Luz para linchar o Robert Murat, por exemplo) fica com a impressão que esta é uma máquina burocrática independente do poder político. Não é. Nunca foi. Nunca há-de ser. Os directores da DRE são, como toda a gente sabe, cargos de nomeação política. Tal como os directores que milhares, milhões de outras delegações, direcções-gerais, institutos, empresas dependentes do Estado. A DREN não serve para servir a educação no Norte do país. A DREN serve para servir o Ministério da Educação. A directora da DREN, nomeada por este Ministério da Educação, perseguiu, enxovalhou e demitiu um ex-deputado do PSD?! Meu Deus, em que mundo é que nós vivemos?! Que função pública é esta?! É a que temos desde o Estado Novo, que o PREC manteve igual, que o Bloco Central manteve igual, que todos os Governos democraticamente eleitos mantiveram igual, porque lhes convêm. O escândalo não é que um episódio destes aconteça. O escândalo é que um episódio destes seja, para os jornais, um escândalo.
Qual George Steiner, qual quê!

Que o Mário Lino esqueceu as suas raízes proto-comunistas já se sabia, ainda que se possa maldosamente encontrar, no seu iberismo, resquícios do universalismo comunista de Marx. Mas se dúvidas houvessem, eis que Mário Lino as dissipa esta semana. Para ele, a Margem Sul não tem cidades, não tem escolas, não tem hospitais, não tem hotéis, não tem comércio, não tem habitantes. Numa palavra, não tem vida. Nada. Zero (faz pensar para que é que serve a Ponte 25 de Abril, afinal de contas). Para ele, a Margem Sul é, passo a citar, “um Sahara”. De uma penada, Mário Lino acaba com dezenas de anos de hagiografia neo-realista marxista, segundo a qual, na cartilha de Soeiro Pereira Gomes, a Margem Sul pululava de pulsão de vida, crianças sonhadoras e descalças, homens honrados com graxa na cara, mulheres esforçadas que acumulavam o trabalho na fábrica e a educação da prole sonhadora e descalça, relações de solidariedade social no meio das pracetas anónimas, enfim, o Portugal mais profundo e verdadeiro. Afinal, tudo é mentira. Nem crianças sonhadoras, nem proletários, nem mães coragem, nem nada. Um Sahara. E no meio, quando muito, quais berberes, os Da Weasel a tocar as suas cantilenas. O que Mário Lino diz é que todos esses romances neo-realistas execráveis, afinal de contas, eram a mais pura ficção. Soeiro Pereira Gomes não se limitava a relatar, em linguagem sofrível, aquilo que via pela janela. Não senhor, Soeiro Pereira Gomes e companhia criaram um mundo imaginário, rico e complexo, tal como William Faulkner fez, quando criou o Yoknapatawpha County. O aeroporto até pode ser construído na Ota para cumprir um desejo pessoal do Mário Lino, já não me importa. O que eu sei é que passei anos a pensar que a literatura nacional do século XX apenas tinha produzido um talento razoável, Vitorino Nemésio, para descobrir, graças ao Mário Lino, que afinal produziu um génio universal, Soeiro Pereira Gomes. O que prova que Mário Lino está mal aproveitado. O seu lugar é no Ministério da Cultura.
O pecado capital de Carmona Rodrigues

E pronto, o Carmona caiu. Eu apoiei o Carmona Rodrigues nas últimas eleições autárquicas, não porque nutra uma imensa simpatia pelo homem, o exemplo acabado do tecnocrata quer nunca deveria entrar na política, mas porque antipatizo profunda, visceralmente com o Manuel Maria Carrilho, o maior bluff da cultura nacional, a prova acabada da origem das espécies proposta por Darwin (quando se ouve o Carrilho falar, até o mais fanático criacionista fica convencido de que descendemos, de facto, dos macacos). O caso Bragaparques está demasiadamente mal esclarecido para ter uma opinião formada sobre a influência do engenheiro Carmona Rodrigues nele. Tenho uma opinião, isso sim, sobre a maneira politicamente desastrosa como o geriu (é o que dá apoiar tecnocratas, tique que nos chegou do PREC e das experiências de auto-gestão, que levaram, como se lembram, uma espécie de junta de salvação nacional, formada por engenheiros, arquitectos, etc, numa palavra, gente de bem, a seleccionadores nacionais no Mundial do México, em 1986, com o resultado que se sabe). Mas existe uma razão para eu censurar Carmona Rodrigues e não apoiar a sua reeleição. O homem ainda não pagou uns tostões que a CML deve à Maria Lopo de Carvalho, que tem alguma espécie de empresa de prestação de serviços (leia-se, aulas de Inglês) a 11 agrupamentos escolares da região. Ela estrebucha, talvez com razão. O problema, o que eu não posso perdoar ao engenheiro Carmona Rodrigues, é que o facto de se encontrar mal de finanças possa levar Maria Lopo de Carvalho a virar-se para a sua segunda fonte de rendimentos: a literatura. Por mim, não me importo de saber que uma ínfima parte dos meus impostos acabam no bolso da Maria Lopo de Carvalho, se isso significar que a senhora permanece entretida a brincar aos CEO e não escreve coisas como “Adopta-me”, “Palavra de Mulher”, “Que bicho te mordeu?” ou essa espantosa obra-prima da literatura naif (escola criada pela própria escritora), “A Minha Mãe é a Melhor do Mundo”. Os prédios históricos podem cair, o trânsito na cidade pode ser caótico, é normal, mas se um grupo de autarcas não consegue fazer uma coisa tão simples como impedir que escritores medíocres exerçam o seu ofício, então para que serve? Se o António Costa pagar a dívida pendente da CML à Maria Lopo de Carvalho, tem o meu voto.

março 21, 2007


Levantai hoje de novo o esplendor de Portugal

Numa semana em que voltam a casa mais de 100 militares portugueses que valentemente cumpriram o seu dever patriótico na Bósnia-Herzegovina, resolvi analisar o site do Estado-Maior General das Forças Armadas e fazer um balanço dos últimos 15 anos anos de bravas missões portuguesas no estrangeiro.


No coração das trevas
Em 1991 enviámos uma aeronave C-130 para “efectuar o resgate de cidadãos nacionais ameaçados pela situação interna no Zaire”, ao abrigo do “Interesse Nacional”. Não sei quantos portugueses viviam no Zaire à altura, mas suspeito que não era necessário enviar uma aeronave C-130. Bastava terem enviado um táxi.


“Aqui é o Chissano, onde é que estás?”
De 1993 a 1994 estivemos em Moçambique, para “ajudar a implementar o Acordo de Paz assinado pelo Presidente da República de Moçambique e o Presidente da Resistência Nacional Moçambicana”, para o que levamos um “batalhão de transmissões”. Rezam as crónicas militares que, se o referido batalhão não tivesse levantado meia dúzia de postes telefónicos, arriscando a vida temerariamente, o Presidente da República de Moçambique e o Presidente da Resistência Nacional Moçambicana nunca teriam entrado em contacto e a paz não teria sido possível.

Crocodilo eu sou, vou-te devorar
Em 1998 chega a “Operação Crocodilo”, que visava “efectuar o transporte para Portugal de civis nacionais e de países amigos residentes na Guiné-Bissau”. Seguindo a terminologia politicamente-correcta-oficial-genealógica à risca, deixaram ao abandono cidadãos cabo-verdianos, angolanos, moçambicanos e guineenses, uma vez que, tecnicamente, não eram de “países amigos”, mas sim de “países irmãos”.

Operação Mário Lino
De 11 de Janeiro de 2000 a 4 de Abril de 2001 estivemos integrados na “Albania Force”, para “garantir a utilização do aeroporto de Tirana”. Entre as muitas medidas tomadas pelo exército português, realçam-se os estudos que provaram que a capacidade do aeroporto de Tirana esgotaria em 2008 e a tentativa de convencer o governo albanês a construir um novo aeroporto em Skopje, a vários quilómetros de distância da capital albanesa.


Mau tempo no canal
Em 2004 estivemos no Mediterrâneo Oriental, a fim de “estabelecer presença naval na região a fim de demonstrar a determinação da OTAN no combate ao terrorismo”. Como é que isto sucedia? Simples. Os membros da Al-Qaeda, de passagem pela Canal do Suez, a caminho do Sudão, viam a fragata Vasco da Gama no meio da água e finalmente percebendo a “determinação da OTAN no combate ao terrorismo”, suficiente para tirar a Vasco da Gama de Cacilhas, resolviam desistir do fundamentalismo islâmico, abraçar o judaísmo e cortarem, ali mesmo, o prepúcio. Mas, para além disso, as forças portuguesas também estavam lá para vigiar “as aproximações ao Canal do Suez, contribuindo para o reconhecimento de um vasto panorama marítimo”. O referido “vasto panorama marítimo” foi reconhecido, após passarem três meses a olharem para um canal com 365 metros de largura.

“Nunca mais é fim do mês!”
Em 2000 chega a “Operação Save”, em Moçambique, que visou, de 5 de Março a 5 de Abril de 2000, “prestar apoio humanitário às vitimas das cheias neste país”, tendo Portugal enviado um “destacamento de fuzileiros navais”. Como a tragédia humanitária em questão era uma cheia, todos eles eram de Santarém. Note-se porém que, oito anos antes, fomos “efectuar a evacuação de Angola de cidadãos nacionais e outros europeus”, de 30 Outubro a 30 de Novembro. Ou seja, para o exército português, um mês chegava e sobrava para tratar dos assuntos em África. A escola de Almeida de Santos continuava ainda em vigor nas Forças Armadas.

Se outros calam, cantemos nós
Desde Setembro 1999 que estamos a “providenciar segurança e manutenção da lei e ordem em Timor-Leste”. Díli pode ainda ser propriamente uma Gstaad, mas pela menos já não é uma Amadora. e Roma e Pavia não se fizeram num dia.


Vasculhando os obituários
Desde 2002 que estamos na ex-Jugoslávia para ajudar à “verificação no terreno do cumprimento dos sucessivos acordos estabelecidos entre as partes em conflito”. Eis como a coisa funciona: os militares portugueses vasculham as ruas das cidades sérvias, croatas, montenegrinas e kosovares em busca de cadáveres mutilados. Quando não os encontram, está cumprida a missão.


“Concorda com a interrupção voluntária do colonialismo, etc e tal?”
Desde Setembro de 1991 que estamos no Saara Ocidental, para supervisionar “o cessar-fogo entre as Forças Armadas do Reino de Marrocos e a Frente Polisário e efectuar um referendo para determinar o futuro do território”. Estando o processo a ser liderado por portugueses, posso garantir duas coisas: primeiro, que mais tarde ou mais cedo o referendo vai mesmo ser feito. Segundo, que este não vai ser juridicamente vinculativo.

Sempre é melhor do que o Iraque
Mandatados pela NATO, estamos no Afeganistão para “assistir a Autoridade Transitória do Afeganistão a manter a segurança na sua área de responsabilidade”. Sendo que todo o país é controlado por diversos senhores da guerra e pelos Taliban, sendo a “área de responsabilidade” da Autoridade Transitória do Afeganistão o palácio presidencial e respectivo jardim, mais coisa, menos coisa, não admira que tenhamos estacionada no Afeganistão uma “equipa de bombeiros”. Estão lá para manter a segurança do presidente do Afeganistão, caso o seu fogão exploda, bem como do seu gato, caso suba a uma palmeira. Estamos ainda no Afeganistão para “prestar assistência humanitária ao governo interino do Afeganistão”. Quanto a isto, apenas uma nota: quando um Governo precisa de ajuda humanitária, talvez seja altura de desistir e voltar para casa.

“É dispersar!… É dispersar!…”
Desde 1999 que estamos no Kosovo, para “verificar a retirada das forças sérvias da província e estabelecer a presença internacional”. Para “estabelecer a presença internacional” não é preciso ser nenhum John Rambo. Basta estar lá. Tanto serve um comando como um cabo-raso a cumprir o serviço mínimo obrigatório. Ainda assim, parece que as forças militares portuguesas estão a fazer um competente serviço ao sentarem-se na fronteira e contarem quantos sérvios a atravessam.


Isso é um arma na tua burqa ou só estás contente por me veres?
Entre Agosto e Setembro de 2001 estivemos no Kosovo, integrados na “Task Force Harvest”, para “desarmar grupos étnicos albaneses e destruir material capturado”. A missão foi um sucesso, tendo os militares portugueses conseguido destruir, nesse único mês, mais de 2000 sacholas apreendidas aos agricultores albaneses.


Sauna ou bunker? Eis a questão...
Desde 1992 que forças militares portuguesas estão intermitentemente em países como a Bósnia-Herzegovina, Cazaquistão, Croácia, Geórgia, Rússia, Suécia e Ucrânia para “garantir a verificação dos acordos sobre controlo de armamentos” assinados pelos países da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). De entre todos os países, aquele que provavelmente deve merecer mais atenção dos nossos inspectores militares é a Suécia, esse perigoso país beligerante, governado por dementes fundamentalistas religiosos.

março 01, 2007

O presidente Almeida Santos



Ontem, na “Quadratura do Círculo”, Almeida Santos saiu-se com duas tiradas antológicas, daquelas a que sempre nos habituou (aliás, Almeida Santos é daqueles exemplos que contrariam a visão quase unanimemente aceite que antigamente é que existiam bons políticos e o Parlamento nacional era uma espécie de Atenas da antiguidade). Primeiro, Almeida Santos brindou-nos com esta máxima de La Palisse, atirando as suas eventuais responsabilidades na pífia descolonização para baixo do tapete: a culpa da descolonização, diz ele, é ter havido colonialismo in the first place. A culpa da descolonização, portanto, é de D. João II. O homem, há que reconhecê-lo, é um portento de silogismos. Pela mesma ordem de ideias, os responsáveis pelo “acidente” de Camarate são os irmãos Wright, que inventaram os aviões, malditos sejam. Depois, Almeida Santos, falando dos mortos e estropiados da guerra colonial, avançou com esta visão história original e brilhante: a ele, Almeida Santos, senador da Nação, não o incomoda muito os milhares e milhares de jovens que morreram a defender terras que nunca tinham conhecido e que não lhes diziam nada, uma vez que, desde o 25 de Abril, já morreram mais portugueses nas estradas e sobre isso ninguém fala. Antes de tudo, saúdo a conversão do Almeida Santos numa espécie de Manuel João Ramos, o presidente dessa obscura Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados. Depois, saúdo também que Almeida Santos viva fora do século e se recuse a ver televisão. Eu, que por necessidade profissional vejo televisão, ando a chupar há anos com campanhas de prevenção rodoviária imbecis e ineficientes. Mas, para Almeida Santos, as campanhas, as operações de Natal, Carnaval, Páscoa, Verão e feriados, com todo histerismo dos noticiários à volta delas, não são suficientes. Como não parecem ser os milhares de manchetes que o “Correio da Manhã” já dedicou ao tema das mortes nas estradas. Não senhor. Para Almeida Santos, os portugueses deviam tratar esse tema ignorado ainda mais profundamente, em vez de passarem a vida a discutir, na televisão e nas tascas, a guerra colonial. Tudo isto em pouco menos de cinco minutos, numa única intervenção. É obra. E não podia deixar de referir a maneira tocante como Jorge Coelho se referiu a Almeida Santos como “o meu presidente” e este lhe deu duas ou três palmadinhas no joelho, qual Don Corleone a acariciar as bochechas dos seus protegidos. Para terminar, fiquei espantado com a confusão que o Lobo Xavier fez entre Jorge Sampaio e Almeida Santos, referindo-se à arbitrariedade da dissolução da Assembleia da República, no tempo do Governo PSD/CDS liderado por Santana Lopes, pelo “presidente da República Almeida Santos”. Duas referências a Almeida Santos como “presidente” em menos de vinte minutos. Será uma vaga de fundo PS/CDS para derrubar Cavaco Silva? Pelo sim, pelo não, já fiz as malas e deixei o passaporte à mão.

fevereiro 13, 2007

Portugal deixou de ter 1o milhões de poetas e passou a ter 10 milhões de humoristas


Estreou o novo programa do Herman José, o Hora H, que tenho o prazer de escrever, juntamente com o meu irmão (o António Marques), o Francisco Palma, o Nuno Markl, o José de Pina e o Filipe Homem Fonseca. As reacções, era previsível, foram arrasadoras. Acho que desde o Pina Manique que tantos portugueses não se deram ao trabalho de falar mal de alguém. No blog do Markl, um energúmeno chegou a dizer que preferia cortar a planta dos pés com uma lâmina de barbear a ver o Hora H. Eu aconselhava-lhe o pescoço, mas os pés também servem. O que acontece é que o Herman José é uma espécie de Mário Soares do humor português, alguém de quem se gosta de dizer "devemos-lhe muito, coiso e tal, mas…". Naturalmente, a expectativa e desejo gerais era que um regresso do Herman José fosse como a terceira candidatura do Mário Soares à Presidência da República, com a Maria Rueff no lugar da Joana Amaral Dias. Infelizmente para esses paladinos do humor que andam por aí, nessa coisa chamada blogosfera, não foi. O Hora H é um programa perfeito? Não. É o melhor programa do Herman José? Não. Nem pode ser. Começou agora mesmo. Os críticos do Hora H fazem-me lembrar os apoiantes do "Não" no referendo ao aborto, que acreditam que um feto de meia dúzia de semanas é um ser humano completo, à semelhança, digamos, do Winston Churchill. Não é. Nem o Hora H é um programa de humor. Há-de ser. Começou agora a ser. Mas já há quem queira abortá-lo e atirá-lo para um penico. Os autores são todos uma merda, o Herman José está acabado, blá, blá, blá. Lembro o exemplo do Zinedine Zidane. Também ele estava acabado para o futebol e o Mundial 2006 apenas serviria para entronizar o Ronaldinho Gaúcho como melhor jogador do mundo. Acontece que o acabado Zidane foi, de longe, o melhor jogador do mundial e continuaria a ser, se estivesse para aí virado, apesar dos seus veneráveis 34 anos de idade, o melhor jogador do mundo. Isto irrita muita gente. Mas é assim mesmo. Quanto às plantas dos pés, espero que a lâmina de barbear estivesse enferrujada.

janeiro 07, 2007

MOSTRÁ-LO EM CUECAS É "EUROPEU", MAS ENFORCÁ-LO?! MON DIEU, ISSO É BÁRBARO!
Definitivamente, não entendo os comentadores nacionais. Semana sim, semana não, lemos as mesmas pias palavras, segundo as quais não compete ao “prepotente” e “autista” Ocidente ditar as suas leis e a sua maneira de viver a outros povos, nomeadamente africanos e árabes. Para esses comentadores, a tentativa neo-conservadora de aplicar o “método dominó” (que acabou por fazer desaparecer a Cortina de Ferro) no Médio Oriente era um estúpido erro, que apenas poderia ter saído da cabeça de um fascista como George W. Bush. Para mim, a Democracia de facto não é aplicável ao Médio Oriente (ou aos países africanos), porque, por razões diferentes, nada na História destes povos a favorece. Tal como nada na História da Europa a favorecia, até 1950, altura em que a Europa decidiu, de uma vez por todas, livrar-se de regimes autoritários, após séculos de reis, imperadores e ditadores todo-poderosos. Porém, o que não de admite é que esses comentadores multiculturalistas que tanto bradam contra a Coca Cola em Riad e os filmes de Hollywood em Mogadíscio venham agora condenar o enforcamento do Saddam Hussein. Estamos a falar dos mesmos comentadores que defendem o direito das muçulmanos que vivem na Europa a usarem burqa, certo? Porque usar burqa faz parte dos usos e costumes dos países muçulmanos e da sharia. Tudo muito bem. Mas a lapidação de condenados à morte e a amputação de membros de pequenos criminosos também faz parte da sharia e dos usos e costumes dos países muçulmanos. E, claro, os enforcamentos como forma de pena de morte, como durante tantos anos se viu no Afeganistão taliban. Nesse caso, que direito tem o “prepotente” e “autista” Ocidente a censurar o enforcamento do Saddam Hussein e a exportar a noção europeia de Direitos Humanos ao Iraque? Porventura não fará parte dos usos e costumes islâmicos enforcar condenados à morte? Faz. Tanto – ou mais – que usar burqas. Clamam os multiculturalistas que a morte de Saddam Hussein, mais do que uma sentença, foi uma vingança xiita. Mas quem foi a luminbária que disse aos multiculturalistas que a sharia é uma forma de Justiça, comparável ao Direito Romano? Decepar a mão que o ladrão usou para roubar não é Justiça, é vingança. É olho por olho, dente por dente, mão por carteira. Esses são os usos e costumes dos países islâmicos, algo que aparentemente apenas agora chegou ao entendimento dos multiculturalistas. O espantoso não é que Saddam Hussein tenha sido enforcado. O espantoso é que não tenha sido linchado no campo de futebol de Bagdad. Mais espantoso ainda é que uma uma Europa que viu Benito Mussolini ser atado pelos pés numa praça, para ser esquartejado pela multidão ávida de sangue e que assistiu ao fuzilamento de Nicolae Ceausescu nas traseiras de um celeiro, após um julgamento no qual o próprio “advogado” de defesa pediu a pena de morte para o seu “cliente”, venha agora dar lições de moral aos EUA. Mas o que é que se espera de uma Europa que baseia a sua superioridade moral na Revolução Francesa, uma das maiores barbaridades cometidas na História e, sobre qualquer aspecto que se olhe para ela, um genocídio, com todas as letras?