Podes sempre telefonar para o fórum da SIC Notícias
Na mesma semana em que um ditador de segunda chamado Hugo Chávez chamou “diabo” ao George W. Bush, afirmando que a sede da ONU ainda cheirava a enxofre, depois da passagem do presidente norte-americano pela instituição, Manuel Maria Carrilho veio chamar “patetas” aos diversos comentadores políticos convidados pelos canais de televisão nacionais. O Manuel devia lembrar-se que o maior imbecil a comentar a actualidade política numa televisão portuguesa foi o marido da Bárbara Guimarães. Manuel, Manuel, como diria o Hugo Chávez, olha que os estúdios da SIC ainda cheiram a after-shave Aramis.
setembro 25, 2006
STOP THE PRESS!
Segundo os serviços secretos franceses, Osama bin Ladem estaria morto. Porém, a notícia Revelar-se-ia falsa, quando os serviços secretos paquistaneses explicaram que Osama bin Laden esteve de facto em estertor, mas Miguel Portas, no Paquistão a filmar mais uma série documental para a 2:, realizou respiração boca-a-boca ao líder da Al-Qaeda, resgatando-o das garras aduncas da morte.
Segundo os serviços secretos franceses, Osama bin Ladem estaria morto. Porém, a notícia Revelar-se-ia falsa, quando os serviços secretos paquistaneses explicaram que Osama bin Laden esteve de facto em estertor, mas Miguel Portas, no Paquistão a filmar mais uma série documental para a 2:, realizou respiração boca-a-boca ao líder da Al-Qaeda, resgatando-o das garras aduncas da morte.
Livro de Reclamações da Câmara Municipal do Porto é maior do que o Ulysses
Numa altura em que se sabe que os serviços de atendimento ao público das autarquias e juntas de freguesia terão obrigatoriamente se disponibilizar aos utentes o Livro de Reclamações, aproveito para explicar a maneira como os portugueses de bom senso entendem diversas outras repartições públicas.
REPARTIÇÃO DE FINANÇAS
LOJA DO CIDADÃO
ATENDIMENTO AO PÚBLICO DA EDP
SECRETARIA DE UMA ESCOLA PÚBLICA
Numa altura em que se sabe que os serviços de atendimento ao público das autarquias e juntas de freguesia terão obrigatoriamente se disponibilizar aos utentes o Livro de Reclamações, aproveito para explicar a maneira como os portugueses de bom senso entendem diversas outras repartições públicas.
REPARTIÇÃO DE FINANÇAS
LOJA DO CIDADÃO
ATENDIMENTO AO PÚBLICO DA EDP
SECRETARIA DE UMA ESCOLA PÚBLICA
setembro 22, 2006
Tell me something else new
Segundo 10 000 responsáveis religiosos islâmicos, reunidos na cidade paquistanesa de Lahore, Bento XVI “deve ser imediatamente afastado da sua posição por encorajar a guerra e atiçar a hostilidade entre as várias fés” e de “proferir declarações insultuosas”. Porquê? Porque “se o Ocidente não mudar a sua posição em relação ao Islão, enfrentará severas consequências”. Mas porqê tanta celeuma, por Deus?! Porque "o Islão não foi propagado pela espada, mas tornou-se popular e foi aceite pelos povos oprimidos do mundo devido aos seus valores e ensinamentos universais”. Onde é que eu já ouvi isto?
Highway to hell
Mais uma semana, mas um escândalo no mundo islâmico. Desta feita foram as declarações de Bento XVI, como poderiam ter sido as declarações do ministro da Agricultura polaco, for that matter. Li o discurso de Bento XVI e assino por baixo todas as frases. Apesar de agnóstico, concordo em absoluto com o diagnóstico brilhante que o Papa faz da sociedade ocidental em que vivemos. De facto, estamos todos numa época pós-religiosa, em que a ciência se substitui, no pensamento europeu (e digo “europeu” e não “ocidental” por uma razão a que já lá iremos), que entende a religião como um estado pré-científico. No fundo, esta é a visão saída do Iluminismo que foi abraçada, com graves consequência, pelo marxismo-leninismo. Para os marxistas, a religião não passa de um esquema de organização social arcaico, baseado na superstição, que inexoravelmente seria ultrapassado pela razão e pela técnica. Quanto à maneira como a razão organizou as sociedades europeias do século XX, com as tentativas pseudo-científicas do nacional-socialismo e do comunismo, com os seus planos quinquenais e a substituição do papel que cabia a Deus pelo Estado omnipotente e omnipresente, estamos conversados. Basta lembrar a maneira metodológica e científica como os alemães organizavam Auschwitz-Birkenau e demais campos de concentração. Na Europa, a religião é algo olhado com fazendo parte de um passado longínquo, algo embaraçoso, como as calças de boca de sino e o disco sound, algo que gostaríamos de esquecer. Basta recordar, para esse efeito, a polémica entorno da definição de “Europa” no projecto de Constituição europeia do Giscard d’Estaing, onde todas as alusões à matriz judaico-cristã – que inequivoca e inquestionavelmente são a espinha dorsal da nossa cultura – foram obliteradas, sem apelo nem agravo. Nos EUA, pelo contrário, o país cientificamente mais avançado do mundo, Deus está presente na organização da sociedade. Os norte-americanos continuam a frequentar a Igreja todos os Domingos de manhã, sem verem nisso qualquer sintoma de superstição ou idolatria. Por essa razão, foram os responsáveis norte-americanos – e não os europeus – os primeiros a olhar para a ameaça do fundamentalismo islâmico. Porque, no fundo, há bastante mais semelhanças entre a sociedade norte-americana e as sociedades islâmicas do que entre a sociedade europeia e a norte-americana. Para um norte-americano imaginar o que passa pela cabeça de um Osama bin Laden, basta pensar num Pat Buchanan levado ao extremo. Na Europa, olhamos para as sociedades islâmicas como olharíamos para o sistema de organização dos gorilas do Congo, algo primitivo que, mais cedo ou mais tarde, vai evoluir. Mas não vai.
O que nos leva ao discurso de Bento XVI em Ratisbona. O que o Papa afirmou foi somente isto: o Ocidente (e nota-se que se referia implicitamente à velha Europa laica) científico e pós-religiosos muito simplesmente nunca conseguirá entender o Islão. E o mais estúpido e revelador de quanto os “governos” islâmicos controlam a “opinião pública” dos seus países é que a passagem da polémica, a citação do imperador Manuel II Paleólogo, serviu apenas para contrapor a refutação do letrado persa, que insistia em que no Corão nada incita à violência. Tanto assim que Bento XVI chega ao ponto de explicar que a maneira como Manuel II Paleólogo se dirigiu ao seu interlocutor foi “espantosamente abrupta para nós”. “Nós”, ocidentais modernos. Nada na passagem revela qualquer mal intenção política do Papa em relação ao Islão. Isso vem mais tarde, quando Bento XVI se interroga como é que uma sociedade pós-religiosa poderá dialogar com uma sociedade em que a religião, mais do que monoteísta (como é nos EUA), é monolítica. E Bento XVI tem razão, por muito que custe aos iluminados europeus. Bento XVI lembra que, desde sempre na cultura cristã, Deus é sinónimo de Razão. “No princípio, era o logos”, lembra. Pelo contrário, no Islão, Deus é transcendente, uma entidade cujos propósitos, escritos no Corão, nunca devem ser questionados, por mais afastados que estejam da razão comum e universal. Portanto, a sociedade ocidental e a sociedade islâmica estão em níveis radicalmente diferentes. E, entende-se pelas palavras de Bento XVI, quase opostos. Com diálogo ou sem diálogo, com guerra do Iraque ou sem guerra do Iraque, Bento XVI limita-se a lembrar uma evidência: que a nossa sociedade moderna, onde Deus foi substituído pela ciência, é uma aberração aos olhos dos muçulmanos, uma blasfémia. E isto é o mais irónico quando pensamos em pessoas como o Mário Soares – fruto do iluminismo francês que começou na Comuna na Paris e acabou no socialismo – e outros entendedores do “Outro”. A proposta de Mário Soares de entender Osama bin Laden parte do pressuposto, errado, que Osama bin Ladem e os líderes religiosos islâmicos querem dialogar e chegar a consensos. Ora, chegar a um consenso implica necessariamente abdicar de algumas das nossas opiniões, em favor das opiniões dos interlocutores. E o mundo islâmico não pode abdicar das suas opiniões pelo simples facto de que a sharia, a ordem de Deus na terra, não é uma opinião. É a palavra divina. Inquestionável. Definitiva. Não há, por consequência, diálogo possível. Nem nunca haverá. A democracia, de facto, é incompatível com o Islão. A democracia implica que o poder está nas mãos das pessoas, que voluntariamente abdicam da responsabilidade da governação em favor de alguém por elas escolhidas através de sufrágio. Isto vai de encontro ao fundamento do Islão. No Islão, o poder não está, nunca esteve, nunca estará nas mãos do Homem. O poder total e absoluto está nas mãos de Deus. Ponto final parágrafo. Quem pensa que o Islão vai evoluir para um modelo norte-americano, em que a sociedade se organiza pela vontade humana e em que a relação com Deus é algo do foro pessoal de cada um, está muito enganado. Basta ver o que os muçulmanos pensam da sociedade norte-americana. E não nos iludamos: a sociedade europeia ainda consegue ser mais aberrante aos olhos de um muçulmano. Nos EUA, na tomada de posse, cada presidente pede a ajuda de Deus para realizar o seu trabalho e termina o discurso invariavelmente com o famoso “God bless América”. Na Europa, a mera menção de Deus num discurso oficial provoca imediatamente ondas de indignação entre os Europeus. A razão de os muçulmanos odiarem mais os EUA tem uma explicação prática. A Europa é politicamente inconsequente. Os EUA não são. A Europa poderá ter o modelo social mais odioso para os muçulmanos, absolutamente laico, mas a Europa não tem poder financeiro, militar e político para o exportar para o Islão. Nem vontade de o fazer. Pelo contrário, o modelo social dos EUA poderá ser um meio termo entre a sociedade europeia e a islâmica, um mal menor aos olhos do Islão, mas a diferença é que os EUA, a maior potência económica e militar do mundo, revelam, pelo menos desde o final da II Guerra Mundial, a intenção de o alargar ao resto do mundo. É isto que preocupa os líderes religiosos muçulmanos. A constatação de que os EUA pretendem agir. Em todos os inquéritos realizados nos EUA, os muçulmanos que vivem no país afirmam, na sua esmagadora maioria, que se identificam primeiro como norte-americanos e apenas depois como muçulmanos. Ou seja, como ocidentais. Primeiro, na ordem das prioridades, está a Nação. Apenas depois surge a religião, entendida precisamente como algo pessoal. Na Europa multiculturalista (que é outra maneira de dizer laxista: façam o que quiserem, desde que não nos chateiem”, é a atitude europeia em relação aos seus imigrantes), a esmagadora maioria dos muçulmanos identifica-se primeiro como muçulmano e apenas depois como inglês, francês, belga, etc (em Portugal nunca foi realizado nenhum inquérito semelhante, como não podia deixar de ser). O que explica os atentados de Londres. A Europa, para o Islão, não é um problema. o Islão sabe que a Europa vive na ilusão patética e pós-moderna de que o diálogo racional tudo resolve. Porque a Europa nascida do Iluminismo crê, conforme o Iluminismo pregava, que a Razão é universal e universalmente aceite e entendida do mesmo modo por todos os povos do mundo. Noam Chomsky, com a sua ridícula teoria da “gramática generativa”, afirma que a gramática é algo universal, algo pré-concebido em todas as pessoas, independentemente da sua origem. No fundo, algo biológico. Tal como a Razão, pois a linguagem é a primeira expressão da Razão. Obviamente, isto é um erro. E o Islão sabe que este é o calcanhar de Aquiles da Europa. Nos EUA, o politicamente correcto hoje em dia, desde o 9/11, está confinada aos círculos académicos onde nasceu, na década de 60: as universidades californianas, com a inevitável Berkeley à cabeça. A política externa da Casa Branca – seja dominada por democratas ou republicanos – é tudo menos multiculturalista. Ou relativista, como prefere dizer Bento XVI. O Papa limita-se a afirmar que o relativismo será a perdição do Ocidente, quando confrontado com uma religião monolítica como a islâmica. Isto não é um ataque ao Islão. Isto é o mais puro bom senso. O que fazer, então, com o mundo em que vivemos e as ameaças que nos rodeiam? Não sei. Bento XVI sabe: o ocidente deve conciliar a razão com Deus. Eu, como agnóstico, infelizmente não acredito nessa tese. Por isso, Bento XVI tem fé. Eu não tenho. Tal como não se podia dialogar com Hitler, também não se pode dialogar com o Islão. O resultado parece inevitável, infelizmente. Dos destroços da guerra, há-de surgir uma nova ordem mundial. Boa para nós ou não, é uma incógnita. Tudo depende, como sempre, dos EUA. Porque militarmente falando, os países islâmicos não são uma ameaça séria aos EUA. Os EUA são a maior potência militar do mundo, convêm lembrar. Os países islâmicos são países em vias de desenvolvimento ou simplesmente atrasados. Em termos estritamente militares, a Arábia Saudita é uma ameaça tão grande como Angola ou o Sri Lanka. Resta saber se existe vontade nos EUA para travar mais esta luta. Conhecendo os EUA, sim. Em tempos de perigo, os EUA costumam sempre rise to the occasion. Salvaram a Europa na II Guerra Mundial. Provavelmente terão de voltar a fazê-lo. Por muito que isto irrite a Esquerda europeia, dá jeito à Europa ter um George W. Bush na Casa Branca. George W. Bush pode ser um bastardo. Mas é o nosso bastardo.
setembro 21, 2006
Shit happens
Gosto muito do Philip Roth. Principalmente o Roth do Goodbye, Columbus e do American Pastoral. Mas li no Algarve o último romance do homem e, por amor de Deus, cada exemplar do romance deveria trazer uma lâmina de barbear das antigas, para os leitores poderem cortar os pulsos. Todo o romance - que narra a vida de um publicitário com probelams de consciência, o que insere automaticamente o livro na categoria de ficção fasntástica - é uma descrição dos medos do autor sobre a morte. No fundo, como se estivesse no divã de um psicanalista. Portanto, se fiz o papel de psicanalista do homem e gastei umas duas ou três horas a ler o romance, vou enviar ao Philip Roth uma conta de 90 dólares.
Gosto muito do Philip Roth. Principalmente o Roth do Goodbye, Columbus e do American Pastoral. Mas li no Algarve o último romance do homem e, por amor de Deus, cada exemplar do romance deveria trazer uma lâmina de barbear das antigas, para os leitores poderem cortar os pulsos. Todo o romance - que narra a vida de um publicitário com probelams de consciência, o que insere automaticamente o livro na categoria de ficção fasntástica - é uma descrição dos medos do autor sobre a morte. No fundo, como se estivesse no divã de um psicanalista. Portanto, se fiz o papel de psicanalista do homem e gastei umas duas ou três horas a ler o romance, vou enviar ao Philip Roth uma conta de 90 dólares.
setembro 20, 2006
E o James Blunt ainda anda por aí...
Se estivesse vivo, Freddie Mercury faria 60 anos. Se estivesse vivo, o Freddie Mercury faria álbuns medíocres. Há pessoas que nascem para serem lendas, não para acabarem reformados, a aturar os netos que os filhos descarregam nas suas casas.
PS: A pessoa na fotografia é o grande Freddie Mercury, não é aquele cubano do CSI Miami que aparece nos anúncios da Sacoor Brothers.
Se estivesse vivo, Freddie Mercury faria 60 anos. Se estivesse vivo, o Freddie Mercury faria álbuns medíocres. Há pessoas que nascem para serem lendas, não para acabarem reformados, a aturar os netos que os filhos descarregam nas suas casas.
PS: A pessoa na fotografia é o grande Freddie Mercury, não é aquele cubano do CSI Miami que aparece nos anúncios da Sacoor Brothers.
Ainda vamos a tempo de salvar os dinossauros?!
Numa altura em que a administração Clinton está a ser arrasada, pela cobardia mostrada quanto à questão Osama bin Laden (cujo assassinato Bill Clinton não aprovou por motivos meramente eleitoralistas), Al Gore volta da tumba com um livro e um documentário: An Inconvenient Truth. E qual é essa verdade inconveniente? Que as emissões de carbono para a atmosfera aumentam o efeito estufa. Holly fucking shit, nunca tinha pensado nisso. Mas o mais irónico nas conferências do Al Gore é que, apesar de isso ser uma verdade insofismável (e não inconveniente), diversos estudos apontam para que, não tivesse existido a revolução industrial e o mundo já estaria submerso em mais um degelo. A única coisa que impediu a grande parte do mundo ocidental de estar mais gelado do que o ambiente no Largo do Caldas foi precisamente a as emissões de carbono para a atmosfera. Sad but true, old chap. Obviamente que nada disto invalida as pretensões do antigo vice-presidente dos EUA. Mas ajuda a perceber como pensa uma certa Esquerda, na qual Al Gore se increve, para quem todos os males que afligem o mundo são da responsabilidade das pessoas que o habitam e que, se os homens quiserem, podem mudar o mundo. A utopia, sempre a utopia. Para mais, An Inconvenient Truth não passa de mais uma descarada tentativa de Al Gore ganhar terreno no Partido Democrático e se apresentar como o candidato ideal para bater finalmente os Republicanos no caminho para a Casa Branca, um espécie de misto entre Howard Dean, Ralph Nader e Tim Robbins. Mas por muito que a postura da administração Bush seja repreensível nas questões ambientais (indigitar um antigo responsável pelo lobby do petróleo para a pasta do ambiente parece sinceramente algo saído do Thank You For Smoking, do Christopher Buckley), não consigo deixar de concordar mais com o primo do Al Gore, o grande Gire Vidal, quando ele diz que any American who is prepared to run for president should automatically, by definition, be disqualified from ever doing so.
setembro 18, 2006
Não sei qual dos dois fará mais jogging
Ao contrário de muitas pessoas, não acho estranho que a Paris Hilton - a mais promíscua das celebridades internacionais - venha agora cantar temas românticos. Afinal, vivemos num País onde um Governo socialista fez da contenção orçamental e da redução da função pública os seus principais objectivos.
setembro 15, 2006
Soares é fixe!
Depois de uma overdose de programas e documentários sobre o 9/11, com reconstituições supostamente comoventes dos últimos momentos dos passageiros do voo 11 da United Airlines e teorias da conspiração esquizofrénicas, chegou-nos ontem a jóia da coroa: o Prós & Contras. Hoje em dia, quando se ouve que Mário Soares vai participar num debate, surge imediatamente um murmurinho de excitação, semelhante ao que os aficionados sentem em Espanha ou na minha terra quando se ouve que o touro tem mais de 500 quilos. Mário Soares é, juntamente com Melo Antunes, a pessoa a quem mais devemos o actual sistema democrático nacional (embora as minhas inclinações pessoais evidentemente se dirijam mais para o distanciado Melo Antunes do que para o quezilento e egocêntrico Mário Soares). Não deixa por isso de ser triste vê-lo reduzido a esta espécie de caricatura do Fernando Rosas (razão tinham os espartanos, quando atiravam os velhos inúteis e senis de um penhasco). Antes de mais, não posso deixar de criticar a RTP, que escolheu alguém – o Pacheco Pereira – que em diversas ocasiões mostrou uma reverência a raiar o temor por Mário Soares. Pacheco Pereira claramente tem receio de ser duro com o idoso Mário Soares, como é com o Jorge Coelho, provavelmente porque teme ser considerado mal-educado ou ser acusado de bater no ceguinho. Um Nuno Rogeiro teria sido um verdadeiro opositor de Mário Soares, embora não consiga ver o Nuno Rogeiro mais do que cinco minutos sem me começar a rir, mesmo concordando com o que ele diz (há pessoas que têm esse efeito nas outras, como o Nuno Rogeiro ou o Ricky Gervais). Isto, claro, para não falar do opositor ideal, sobre aquele ou qualquer outro tema, para Mário Soares: Paulo Portas. Mas um boca a boca com Mário Soares, nesta altura do campeonato, equivaleria a assumir um retorno à política, algo que o Paulo Portas notoriamente ainda não deseja (e bem, digo eu: para quê lutar contra Ribeiro e Castro quando o presidente do CDS/PP parece apostado em auto-destruir-se? Para quê tentar assassinar um suicida?).
Que Mário Soares embarque em teorias da conspiração, não me admira. A senilidade tem destas coisas. E a amnésia, pois é no mínimo engraçado ouvir Mário Soares diabolizar o país, após o 25 de Abril, financiou quase a fundo perdido o Partido Socialista. Ou será que Mário Soares já não se lembra do Frank Carlucci? Mas o mais gratificante foi ver a tentativa patética de todos os participantes de Esquerda de baterem na mesma tecla de sempre, a que os muçulmanos são um povo trabalhador que em nada se revê nas demências feudais do Osama bin Laden e seus acólitos. Pois bem, a RTP fez-lhes o favor de convidar um intelectual e um edvogado muçulmanos. Atenção, não estamos a falar de taxistas paquistaneses ou empregados de mesa de restaurantes marroquinos. Estamos a falar de muçulmanos formados, cultos e informados. E o que é que esses moderados, de quem a Esquerda espera reformas internas no Islão, nos disseram? Que o 9/11 foi orquestrado pelos EUA. Claro. Mário Soares, reclinado na sua cadeira, sorriu e concordou. Mas o mais irónico é a justificação oferecida pelos dois intelectuais. A Al-Qaeda, por si só, nunca poderia ter organizado um ataque tão sofisticado. É esta a visão que os muçulmanos têm deles mesmos. Muçulmanos cultos e educados como Osama bin Laden (educado nos melhores colégios privados de Inglaterra) e Ayman al-Zawahiri (médico de profissão e professor universitário) nunca conseguiriam pensar em desviar aviões e espetá-los contra prédios. De facto, é necessário a ajuda de um Henry Kissinger para pensar em algo com tão elevado grau de sofisticação. E Mário Soares e demais convidados de Esquerda assinaram por baixo, passando um atestado de minoridade intelectual e civilizacional a todo o Islão, alegremente. Fossem eles fazendeiros colonialistas a falar dos seus pretos e não teriam dito melhor. Os muçulmanos necessitam da ajuda dos ocidentais para retirar petróleo do seu próprio sub-solo, isso é verdade. Mas não para matar pessoas. Nisso, há centenas de anos, eles são especialistas. Ou não tivessem sido os muçulmanos, não os europeus, a começar a escravatura moderna nos séculos XIV e XV, vendendo os negros vencidos em batalhas, ali para a região de Darfur, onde os muçulmanos continuam a tratar os negros com enorme diligência, como sabemos. Ainda tentou rumar contra a maré e enfiar algum tino naquelas cabeças duras a historiadora Helena Matos. Para quê, Helena? Os pinguins, de vez em quando, gostam de se suicidarem. Não vale a pena tentar convencê-los a não se atirarem dos rochedos. É preferível ajudá-los e dar-lhes um empurrão.
Depois de uma overdose de programas e documentários sobre o 9/11, com reconstituições supostamente comoventes dos últimos momentos dos passageiros do voo 11 da United Airlines e teorias da conspiração esquizofrénicas, chegou-nos ontem a jóia da coroa: o Prós & Contras. Hoje em dia, quando se ouve que Mário Soares vai participar num debate, surge imediatamente um murmurinho de excitação, semelhante ao que os aficionados sentem em Espanha ou na minha terra quando se ouve que o touro tem mais de 500 quilos. Mário Soares é, juntamente com Melo Antunes, a pessoa a quem mais devemos o actual sistema democrático nacional (embora as minhas inclinações pessoais evidentemente se dirijam mais para o distanciado Melo Antunes do que para o quezilento e egocêntrico Mário Soares). Não deixa por isso de ser triste vê-lo reduzido a esta espécie de caricatura do Fernando Rosas (razão tinham os espartanos, quando atiravam os velhos inúteis e senis de um penhasco). Antes de mais, não posso deixar de criticar a RTP, que escolheu alguém – o Pacheco Pereira – que em diversas ocasiões mostrou uma reverência a raiar o temor por Mário Soares. Pacheco Pereira claramente tem receio de ser duro com o idoso Mário Soares, como é com o Jorge Coelho, provavelmente porque teme ser considerado mal-educado ou ser acusado de bater no ceguinho. Um Nuno Rogeiro teria sido um verdadeiro opositor de Mário Soares, embora não consiga ver o Nuno Rogeiro mais do que cinco minutos sem me começar a rir, mesmo concordando com o que ele diz (há pessoas que têm esse efeito nas outras, como o Nuno Rogeiro ou o Ricky Gervais). Isto, claro, para não falar do opositor ideal, sobre aquele ou qualquer outro tema, para Mário Soares: Paulo Portas. Mas um boca a boca com Mário Soares, nesta altura do campeonato, equivaleria a assumir um retorno à política, algo que o Paulo Portas notoriamente ainda não deseja (e bem, digo eu: para quê lutar contra Ribeiro e Castro quando o presidente do CDS/PP parece apostado em auto-destruir-se? Para quê tentar assassinar um suicida?).
Que Mário Soares embarque em teorias da conspiração, não me admira. A senilidade tem destas coisas. E a amnésia, pois é no mínimo engraçado ouvir Mário Soares diabolizar o país, após o 25 de Abril, financiou quase a fundo perdido o Partido Socialista. Ou será que Mário Soares já não se lembra do Frank Carlucci? Mas o mais gratificante foi ver a tentativa patética de todos os participantes de Esquerda de baterem na mesma tecla de sempre, a que os muçulmanos são um povo trabalhador que em nada se revê nas demências feudais do Osama bin Laden e seus acólitos. Pois bem, a RTP fez-lhes o favor de convidar um intelectual e um edvogado muçulmanos. Atenção, não estamos a falar de taxistas paquistaneses ou empregados de mesa de restaurantes marroquinos. Estamos a falar de muçulmanos formados, cultos e informados. E o que é que esses moderados, de quem a Esquerda espera reformas internas no Islão, nos disseram? Que o 9/11 foi orquestrado pelos EUA. Claro. Mário Soares, reclinado na sua cadeira, sorriu e concordou. Mas o mais irónico é a justificação oferecida pelos dois intelectuais. A Al-Qaeda, por si só, nunca poderia ter organizado um ataque tão sofisticado. É esta a visão que os muçulmanos têm deles mesmos. Muçulmanos cultos e educados como Osama bin Laden (educado nos melhores colégios privados de Inglaterra) e Ayman al-Zawahiri (médico de profissão e professor universitário) nunca conseguiriam pensar em desviar aviões e espetá-los contra prédios. De facto, é necessário a ajuda de um Henry Kissinger para pensar em algo com tão elevado grau de sofisticação. E Mário Soares e demais convidados de Esquerda assinaram por baixo, passando um atestado de minoridade intelectual e civilizacional a todo o Islão, alegremente. Fossem eles fazendeiros colonialistas a falar dos seus pretos e não teriam dito melhor. Os muçulmanos necessitam da ajuda dos ocidentais para retirar petróleo do seu próprio sub-solo, isso é verdade. Mas não para matar pessoas. Nisso, há centenas de anos, eles são especialistas. Ou não tivessem sido os muçulmanos, não os europeus, a começar a escravatura moderna nos séculos XIV e XV, vendendo os negros vencidos em batalhas, ali para a região de Darfur, onde os muçulmanos continuam a tratar os negros com enorme diligência, como sabemos. Ainda tentou rumar contra a maré e enfiar algum tino naquelas cabeças duras a historiadora Helena Matos. Para quê, Helena? Os pinguins, de vez em quando, gostam de se suicidarem. Não vale a pena tentar convencê-los a não se atirarem dos rochedos. É preferível ajudá-los e dar-lhes um empurrão.
setembro 10, 2006
Finalmente percebi as críticas entusiásticas aos filmes do Pedro Costa
Este é um dos haikus mais conhecidos de Basho Matsuo (1644-1694), um dos mais consagrados poetas japoneses:
O velho tanque -
Uma rã mergulha,
barulho de água.
E esta é uma explicação, que encontrei um dia destes, para o dito poema:
A percepção sensorial (visual e auditiva) do som da rã a saltar enquadra-se numa percepção sugestiva mais ampla, a do velho tanque que poderá evocar um velho jardim, velhas árvores de outras eras, o silêncio que permite escutar o barulho da rã, o repouso que permite acompanhar o seu salto para o tanque. É um súbito elemento da natureza que inspira um ambiente, talvez de quietude, talvez de intemporalidade. É o movimento ruidoso da rã que define o imediato e efémero; é o velho tanque com suas águas que representa o eterno e intemporal. O hífen é o elemento de separação entre o que é físico e imediato e o que é mais amplo e passível de sugestões.
Este é um dos haikus mais conhecidos de Basho Matsuo (1644-1694), um dos mais consagrados poetas japoneses:
Ou seja,
O velho tanque -
Uma rã mergulha,
barulho de água.
E esta é uma explicação, que encontrei um dia destes, para o dito poema:
A percepção sensorial (visual e auditiva) do som da rã a saltar enquadra-se numa percepção sugestiva mais ampla, a do velho tanque que poderá evocar um velho jardim, velhas árvores de outras eras, o silêncio que permite escutar o barulho da rã, o repouso que permite acompanhar o seu salto para o tanque. É um súbito elemento da natureza que inspira um ambiente, talvez de quietude, talvez de intemporalidade. É o movimento ruidoso da rã que define o imediato e efémero; é o velho tanque com suas águas que representa o eterno e intemporal. O hífen é o elemento de separação entre o que é físico e imediato e o que é mais amplo e passível de sugestões.
Por altura do lançamento de mais um álbum do Bob Dylan, Modern Times, este post segue escrito da maneira como o cantor o leria, com a sua famosa pronúncia cristalina:
Eafasfs etstsahstsgs rtstagsfsrsb shstsvs Bob agagsrs aknsisyjnamn Modernn agsts sgts abbstsrgs ggrratatssbssgsgs ahshsyahhsra sttstsbshstaksnstan ajsysna, akjsiuaknal sjiunaamajsus, aksisnaa. Agsrsksuisnsos alsushakspa Their are ansjsuiana sksoapa, aksisj shapsmshstslsmsak sksoans, amslsoians. Dkdoama skapamsnd smsjsjs ssknsmmssnsneh sjsk George Dubliaaaaaaaa Buuuuuush sjsiamsops sjsoans.
Eafasfs etstsahstsgs rtstagsfsrsb shstsvs Bob agagsrs aknsisyjnamn Modernn agsts sgts abbstsrgs ggrratatssbssgsgs ahshsyahhsra sttstsbshstaksnstan ajsysna, akjsiuaknal sjiunaamajsus, aksisnaa. Agsrsksuisnsos alsushakspa Their are ansjsuiana sksoapa, aksisj shapsmshstslsmsak sksoans, amslsoians. Dkdoama skapamsnd smsjsjs ssknsmmssnsneh sjsk George Dubliaaaaaaaa Buuuuuush sjsiamsops sjsoans.
Ao cuidado da Fátima Campos Ferreira...
Em mais uma noite de insónias, doença da qual sofro cronicamente, vi ontem um programa da RTPN em que João Gobern e mais uns quantos convidados mais magros debatiam o "fenómeno" Morangos Com Açúcar e Floribella. Sou só eu que estou errado ou não há nada para perceber no dito fenómeno, assim mesmo denominado, como se Portugal fosse uma País habituado às mais altas expressões de cultura highbrow, com programas sobre Evelyn Waugh todas as noites em horário nobre, subitamente surpreendido pela invasão bárbara de uns quantos programas de lixo televisivo? Desde quando é que o nosso País se caracteriza por hábitos de consumo culturais? Num País com os mais baixos níveis de escolaridade da OCDE entre os jovens e os mais baixos níveis de leitura entre os adultos, ainda há quem se admire que a Floribella lidere as audiências? Queriam o quê em horário nobre, programas do David Attenborough? Mas, claro!, no final do debate levantou-se a inevitável questão do marketing que envolve os dois programas em questão. Sempre os traumas do PREC a virem ao de cima, como se o maior defeito dos programas não fosse serem mal escritos e interpretados, mas fazerem dinheiro. Mas se um programa comercial não serve para educar as massas, como desejariam os Arnaldos Matos deste País, então serve para quê? Ora bem: para fazer dinheiro. Não existe nenhuma diferença entre a Floribella e um anúncio da TMN. Ambos são produtos televisivos pensados e executados para apelarem ao consumo. Não valem por si, têm um propósito. O problema dos críticos portugueses é colocarem na mesma categoria um episódio da Floribella e um filme do Scorsese (confesso que prefiro um episódio da Floribella aos últimos filmes do Scorsese, mas enfim...). E atenção, este problema poderia ter um mínimo de pertinência caso as referidas séries fossem transmitidas por um canal público. Nesse caso, seria o primeiro a questionar a razão de gastarem o dinheiro dos meus impostos para pagar o salário à mongas da Luciana Abreu. Mas os Morangos Com Açúcar e a Floribella são transmitidos em canais privados, em empresas privadas, cuja obrigação contratual de fazerem serviço público é, antes de mais, uma aberração. Não compete à televisão formar os nossos impressionáveis jovens. Isso compete à escola – cujos salários de professores e funcionários, esses sim, são pagos por mim – e às famílias. Aguardo ansiosamente por um Prós & Contras sobre o assunto, numa qualquer semana da RTP dedicada ao ressabiamento.
Em mais uma noite de insónias, doença da qual sofro cronicamente, vi ontem um programa da RTPN em que João Gobern e mais uns quantos convidados mais magros debatiam o "fenómeno" Morangos Com Açúcar e Floribella. Sou só eu que estou errado ou não há nada para perceber no dito fenómeno, assim mesmo denominado, como se Portugal fosse uma País habituado às mais altas expressões de cultura highbrow, com programas sobre Evelyn Waugh todas as noites em horário nobre, subitamente surpreendido pela invasão bárbara de uns quantos programas de lixo televisivo? Desde quando é que o nosso País se caracteriza por hábitos de consumo culturais? Num País com os mais baixos níveis de escolaridade da OCDE entre os jovens e os mais baixos níveis de leitura entre os adultos, ainda há quem se admire que a Floribella lidere as audiências? Queriam o quê em horário nobre, programas do David Attenborough? Mas, claro!, no final do debate levantou-se a inevitável questão do marketing que envolve os dois programas em questão. Sempre os traumas do PREC a virem ao de cima, como se o maior defeito dos programas não fosse serem mal escritos e interpretados, mas fazerem dinheiro. Mas se um programa comercial não serve para educar as massas, como desejariam os Arnaldos Matos deste País, então serve para quê? Ora bem: para fazer dinheiro. Não existe nenhuma diferença entre a Floribella e um anúncio da TMN. Ambos são produtos televisivos pensados e executados para apelarem ao consumo. Não valem por si, têm um propósito. O problema dos críticos portugueses é colocarem na mesma categoria um episódio da Floribella e um filme do Scorsese (confesso que prefiro um episódio da Floribella aos últimos filmes do Scorsese, mas enfim...). E atenção, este problema poderia ter um mínimo de pertinência caso as referidas séries fossem transmitidas por um canal público. Nesse caso, seria o primeiro a questionar a razão de gastarem o dinheiro dos meus impostos para pagar o salário à mongas da Luciana Abreu. Mas os Morangos Com Açúcar e a Floribella são transmitidos em canais privados, em empresas privadas, cuja obrigação contratual de fazerem serviço público é, antes de mais, uma aberração. Não compete à televisão formar os nossos impressionáveis jovens. Isso compete à escola – cujos salários de professores e funcionários, esses sim, são pagos por mim – e às famílias. Aguardo ansiosamente por um Prós & Contras sobre o assunto, numa qualquer semana da RTP dedicada ao ressabiamento.
setembro 09, 2006
Eu também não gosto das tuas séries históricas merdosas, mas não peço ao Ministério Público para as cancelar...
Sempre que este homem abre a boca, sai bacorada. Agora, o ex-inspector Rosa Casa... quer dizer,Francisco Moita Flores, autarca social-democrata, cuspiu um pérola digna do Jerónimo de Sousa. O Chico não admite que a FIFA obrigue o Gil Vicente a cumprir regras que não respeitam as leis gerais da República. Para o Chico, é inconcebível que um conjunto de homens livres livremente se associem e definam as regras que orientem a referida associação, sem imediatamente o Estado, a Justiça, o diabo a quatro enfiarem o bedelho. Ninguém obriga o Gil Vicente a integrar a UEFA e a FIFA. Mas, se o faz, deve cumprir as suas regras e estatutos. Também é proibido uma discoteca não deixar entrar alguém nas suas instalações por ter calçados uns ténis, em vez de uns sapatos de vela. Mas pretender que a Justiça se intrometa nisso e obrigue o Pacman a entrar na Kapital – ou obrigar a Caixa Geral dos Depósitos ou o BPI ou qualquer outra instituição bancária a permitir que os seus funcionários trabalhem de calções e chinelas, à revelia das regras tácitas de indumentária das instituições – é pouco menos do que uma aberração estalinista. "Quanto menos Estado, melhor Estado" é uma regra que não entra na cabeça do Chico. Os estatutos da Sociedade Recreativa Barranquense, que dá nome a este blog, proíbem que alguém entre nas instalações da SRB de chapéu ou com as mãos nos bolsos. A história do chapéu é por uma questão de respeito. A história das mãos nos bolsos foi pensada, à data em que os estatutos foram aprovados, para impedir que alguém entrasse na SRB subrepticiamente armado. É estúpido? É o que é. Dezenas de anos após a morte de Salazar, é triste ver que há tiques que não se perdem.
Sempre que este homem abre a boca, sai bacorada. Agora, o ex-inspector Rosa Casa... quer dizer,Francisco Moita Flores, autarca social-democrata, cuspiu um pérola digna do Jerónimo de Sousa. O Chico não admite que a FIFA obrigue o Gil Vicente a cumprir regras que não respeitam as leis gerais da República. Para o Chico, é inconcebível que um conjunto de homens livres livremente se associem e definam as regras que orientem a referida associação, sem imediatamente o Estado, a Justiça, o diabo a quatro enfiarem o bedelho. Ninguém obriga o Gil Vicente a integrar a UEFA e a FIFA. Mas, se o faz, deve cumprir as suas regras e estatutos. Também é proibido uma discoteca não deixar entrar alguém nas suas instalações por ter calçados uns ténis, em vez de uns sapatos de vela. Mas pretender que a Justiça se intrometa nisso e obrigue o Pacman a entrar na Kapital – ou obrigar a Caixa Geral dos Depósitos ou o BPI ou qualquer outra instituição bancária a permitir que os seus funcionários trabalhem de calções e chinelas, à revelia das regras tácitas de indumentária das instituições – é pouco menos do que uma aberração estalinista. "Quanto menos Estado, melhor Estado" é uma regra que não entra na cabeça do Chico. Os estatutos da Sociedade Recreativa Barranquense, que dá nome a este blog, proíbem que alguém entre nas instalações da SRB de chapéu ou com as mãos nos bolsos. A história do chapéu é por uma questão de respeito. A história das mãos nos bolsos foi pensada, à data em que os estatutos foram aprovados, para impedir que alguém entrasse na SRB subrepticiamente armado. É estúpido? É o que é. Dezenas de anos após a morte de Salazar, é triste ver que há tiques que não se perdem.
A confederacy of dunces
Quando era criança sentia-me deprimido pela época em que vivia e pensava, no quarto, em como seria melhor viver nos anos 20, ignorante de que, para os contemporâneos de qualquer época, o passado surge sempre como preferível. Mais velho, hoje em dia olho para os anos 80, quando fui criança, como uma época ideal e inultrapassável. Sei que tudo não passa de uma falácia e que, daqui a 20 anos, olharei para o presente que agora atravessamos com a mesma nostalgia. Pensava em como seria bom ter vivido em primeira mão a publicação dos romances do Faulkner e do Fitzgerald, o lançamento dos filmes do John Ford, do Howard Hawks e do Frank Capra. Afinal, ler Absalom, Absalom! hoje em dia não se compara à excitação de descobrir o romance pela primeira vez, quando foi publicado, sem ser precedido por milhares de recessões críticas, com o entusiasmo de uma descoberta pessoal. Numa época em que vivemos uma aurea mediocritas, em que a qualidade se novela pelo médio, quando não pelo medíocre, poucos são os verdadeiros génios dos quais podemos ser contemporâneos. Porém, fui contemporâneo de Zinedine Zidane, uma das poucas pessoas que sobram no mundo para quem, aos olhos dos comuns dos mortais, o seu talento se mostra como improvável e quase sobrenatural. Tendo o privilégio de o ver jogar, ainda por cima, no meu clube de infância e família, o Real Madrid. Lembrar este génio por um erro no último momento da sua carreira é sintomático: os porcos nunca desistem de arrastar para o seu nível – ou seja, a lama – os verdadeiramente grandes.
Quando era criança sentia-me deprimido pela época em que vivia e pensava, no quarto, em como seria melhor viver nos anos 20, ignorante de que, para os contemporâneos de qualquer época, o passado surge sempre como preferível. Mais velho, hoje em dia olho para os anos 80, quando fui criança, como uma época ideal e inultrapassável. Sei que tudo não passa de uma falácia e que, daqui a 20 anos, olharei para o presente que agora atravessamos com a mesma nostalgia. Pensava em como seria bom ter vivido em primeira mão a publicação dos romances do Faulkner e do Fitzgerald, o lançamento dos filmes do John Ford, do Howard Hawks e do Frank Capra. Afinal, ler Absalom, Absalom! hoje em dia não se compara à excitação de descobrir o romance pela primeira vez, quando foi publicado, sem ser precedido por milhares de recessões críticas, com o entusiasmo de uma descoberta pessoal. Numa época em que vivemos uma aurea mediocritas, em que a qualidade se novela pelo médio, quando não pelo medíocre, poucos são os verdadeiros génios dos quais podemos ser contemporâneos. Porém, fui contemporâneo de Zinedine Zidane, uma das poucas pessoas que sobram no mundo para quem, aos olhos dos comuns dos mortais, o seu talento se mostra como improvável e quase sobrenatural. Tendo o privilégio de o ver jogar, ainda por cima, no meu clube de infância e família, o Real Madrid. Lembrar este génio por um erro no último momento da sua carreira é sintomático: os porcos nunca desistem de arrastar para o seu nível – ou seja, a lama – os verdadeiramente grandes.
Repite after me...
- “Ainda não me acostumei a ver os filmes rodados em Nova Iorque sem as Twin Towers ao fundo”;
- “Não nos podemos esquecer que os terroristas significam uma ínfima parte dos milhões de muçulmanos, trabalhadores e pacíficos, espalhados pelo mundo, iguais a nós”;
- “O mais irónico do 11 de Setembro é que muitas das vítimas eram elas próprias muçulmanas”;
- “Se deixarmos de passar férias no Recife ou em Cancun por causa do medo de andar de avião, os terroristas já ganharam”;
- “Desculpem, mas há uma grande diferença entre a ETA e a Al-Qaeda; a ETA avisa com antecedência onde vai realizar os seus tentados, a Al-Qaeda não”;
- “Já notaram como o Osama bin Ladem faz lembrar Jesus Cristo? E não eram os apóstalos, no início do Cristianismo, também eles considerados pelos imperialistas romanos uma seita de fanáticos perigosos e perseguidos?”
- “Não me venham dizer que as 3000 vidas que se perderam nas Twin Towers têm mais valor do que as 100 000 vidas que já se perderam no Iraque, desde o início da invasão!”;
- “Se o Bill Clinton tivesse assassinado o Osama bin Laden quando teve a oportunidade, nada disto teria acontecido”;
- “Num mundo globalizado como o nosso, um atentado em Nova Iorque afecta-nos tanto a nós, portugueses, como aos norte-americanos”;- “Naquele dia, todos nós fomos nova iorquinos”.
Onde estavam os preservativos quando esta foi feita?
Esta semana soube-se que o sémem pode causar cancro do útero. Mulheres cujos parceiros praticam sexo seguro podem desenvolver cancro. Mulheres cujos parceiros não usam preservativo podem contrair Sida. Isto significa que, a longo prazo, as eleitoras do PS, PSD, CDS/PP e PCP morrerão de doença prolongada e apenas restarão eleitoras do Bloco de Esquerda.
Nem quero imaginar a que é que sabem as pipocas
A CML contribui com 30 000 euros para a 10ª edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, uma tradição que foi herdada do consulado do João Soares. Como os homossexuais estão habituados a tomar retrovirais, que são um cocktail de três medicamentos, o subsídio foi entregue da seguinte maneira: 10 000 euros portugueses, 10 000 euros italianos e 10 000 euros holandeses.
PONTO E VÍRGULA
Acabou O Independente. Na última edição, uma lúgubre capa negra e a definitiva manchete “Ponto Final”. Sinceramente, não percebemos o drama e as epígrafes. Se O Independente fizer justiça ao seu hábito de publicar manchetes falsas, isso significa que, daqui a quinze dias ou três semanas, o semanário estará novamente nas bancas.
setembro 07, 2006
O máximo que consigo em matéria de silogismos ou Nem todos podem ser o Gonçalo M. Tavares
A ser verdade que um homem apenas é verdadeiramente realizado e nada mais precisa fazer debaixo do sol quando escreve um livro, planta uma árvore e tem um filho, então, por mera consequência lógica e quantitativa, o António Lobo Antunes, que já escreveu uma catrefada de livros, deveria ter mais filhos que o pai do Osama bin Laden e plantar o pinhal de Leiria, para morrer em paz consigo próprio.
Eu e a minha mulher, no Fialho, uma garrafa decantada de Granja Tinto de 1984 e uns espargos com ovos. Depois, voltar a Portel e passar a noite a beber outra garrafa de vinho e a roubar os figos do jardim do hotel, enquanto somos encharcados pelo sistema de rega. A vida pode ser tão simples e tão bela.
O À La Recherche Du Temps Perdu dos filmes
A julgar por todos os inquéritos de Verão realizados aos políticos portugueses nos últimos anos, este é o filme da vida de todos eles, praticamente sem excepção. Também já foi o meu. Quando eu tinha 12 anos de idade. O desejo de integrar a unanimidade parece ser uma espécie de doença crónica nos nossos políticos, como a herpes. Quando algum político disser que o filme da vida dele é o Ferris Bueller's Day Off, do John Hughes, tem o meu voto.
Twelve Kinds of Loneliness
Como anteriormente disse num post, a respeito do John Wayne, cada país tem os heróis que merece. O mesmo vale quanto aos escritores. Enquanto os portugueses sentem o ego inflacionado quando algum jornal de Kuala Lampur cita, num canto da página 16, algum romance do António Lobo Antunes (que morreu para a literatura há muito tempo, se é que alguma vez chegou a existir como escritor) ou esse bluff chamado José Saramago (um dos escritores mais estilisticamente medíocre e intelectualmente vácuo que conheci em toda a minha vida, cujo prémio Nobel da Literatura devia envergonhar os portugueses, em vez de os honrar, pois equivale a alguma instituição internacional atribuir um qualquer prémio ao major Tomé ou ao Otelo Saraiva de Carvalho), outros países, como os EUA, tem o Richard Yates.
Qualquer pessoa que, como eu, tenha uma cultura basicamente anglo-saxónica, conhece o asco e o desprezo com que a intelectualidade nacional trata a literatura norte-americana, a mais profunda, criativa e estimulante literatura mundial do pós-guerra. Para os portugueses, nomes como O. Henry, F. Scott Fitzgerald, William Faulkner, Ernest Hemingway (embora esteja longe de ser um indefectível do Hemingway, The Sun Also Rises é provavelmente o mais belo livro escrito no século XX, juntamente com Revolutionary Road – já lá vamos – e The Wild Palms, do Faulkner), Saul Bellow, Joseph Heller, Norman Mailer, Gore Vidal, William Styron, Harold Brodkey, Philip Roth, André Dubus, John Cheever, John Updike ou, mais recentemente, Richard Ford, dizem pouco ou nada. Para os portugueses, quanto mais “poético” ou “belo” o estilo, melhor o escritor. Os portugueses preferem babar-se nas imagens frouxas de um Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada, desse irritante Pablo Neruda (Eli Eli lama sabactani!...) a confrontarem-se com, por exemplo, o What Thou Lovest Well, Remains American do Richard Hugo. Para ler Hugo, Styron ou Dubus é preciso força e os portugueses são como uma turma de adolescentes virgens a suspirar pelas pestanas do Brad Pitt. Os portugueses têm uma crónica incapacidade de lidarem com a realidade. Deambulam entre o delicodoce das Rebelos Pintos e o pseudo-neo-realismo chunga de uma Teresa Villaverde ou um Pedro Costa. Ou querem ver mulheres de sucesso de jantam todos os dias na Bica do Sapato – que são uma minoria – ou querem ver jovens mães solteiras toxicodependentes que morrem de overdose – que são outra minoria. Os sonhos, quotidiano, aspirações, desilusões, tédio e amor da classe-média, ninguém suporta. Basicamente, os portugueses não gostam de se ver ao espelho e os escritores e realizadores portugueses fazem o favor de não lhes mostrar qualquer superfície minimamente espelhada, que não seja um espelho de circo, deformado para o bem ou para o mal. As tentativas de o fazer, como o Francisco Lucas Pires, não passam de redacções do ciclo preparatório escritas por admiradores babados e babosos do Raymond Carver (o escritor que mais fez pela descida do grau de exigência na literatura moderna, com as suas short stories pretensamente carregadas de significado, quando na realidade não querem dizer absolutamente nada e que não passam de uma péssima tentativa de tradução para a linguagem literária da solidão dos quadros do Edward Hooper). Ainda assim, preferia – se a isso fosse obrigado, claro – ler os textos do Francisco Lucas Pires a ter de chupar com as homages ao Saramago de um José Luís Peixoto. Mal por mal, que venha o medíocre original. Um Joseph Stalin ou um Adolf Hitler sempre têm uma dimensão que um Kin Jon-Il ou um Mahmoud Ahmadinejad nunca terão.
Porém, de todos os escritores norte-americanos do pós-guerra, Richard Yates é um caso estranho. Catalogado no limbo de ser um writer’s writer (a definição de alguém que os seus colegas escritores incensam, mas que o publico olimpicamente ignora), Richard Yates espantou o mundo literário norte-americano com a publicação, em 1961, do mais belo e perfeito romance do pós-guerra, que define todo o período com uma mestria que nenhum outro escritor conseguiu até hoje igualar: Revolutionary Road. A obra é um hino à vacuidade de um período em que o consumo era o reflexo de um optimismo desmesurado na sociedade norte-americana, mas em que os valores que haviam pautado essa mesma sociedade – a abnegação, o heroísmo, a individualidade – tinham morrido com o regresso a casa das tropas. E o irónico em Richard Yates é que a sua vida reflecte a sua obra. Jornalista, ghost writer do senador Robert Kennedy (a quem escrevia os discursos) e por fim publicitário, os romances de Yates foram sendo publicados e esquecidos quase à mesma velocidade, chegando-se à caricata e trágica situação dos meados dos anos 90, em que todos os seus romances estavam fora de circulação. Apenas a insistência e dedicação de escritores brilhantes como Richard Ford e Richard Russo começaram a reabilitar a obra daquele se considero o maior escritor norte-americano da segunda metade do século XX. Outros têm obras mais regulares (Philip Roth), outros são mas intelectuais e profundos (Saul Bellow), outros são mais intensos (William Styron), outros são mais poéticos, na verdadeira acepção da palavra (Paul Bowles), mas nenhum consegue comover os leitores como Richard Yates em romances como Revolutionary Road, A Special Providence, The Easter Parade, A Good School, Cold Spring Harbor ou nesse seminal e absolutamente magnífico The Collected Stories of Richard Yates, que reúne as short stories publicadas nos volumes Eleven Kind Of Loneliness e Liars In Love, para além de short stories inéditas, que não foram aceites por revistas como a New Yorker. Sim, porque para além de ser o mais tocante e trágico escritor do pós-guerra, Richard Yates foi também, sem dúvida alguma, o zénite desse estilo tão norte-americano das short stories, o seu maior mestre e o único que felizmente nada devia ao Chekhov, ídolo do Raymond Carver e outros que tais. Assim chegamos a uma situação sem saída. Os portugueses desprezam os escritores norte-americanos. Os leitores norte-americanos desprezam Richard Yates. Não é preciso dizer o que vale Richard Yates para os leitores portugueses. Ainda bem. De todas as ignomínias que caíram sobre o escritor, como o olvido das suas obras e o ostracismo dos seus pares, a maior humilhação possível seria a admiração do Eduardo Prado Coelho.
Como anteriormente disse num post, a respeito do John Wayne, cada país tem os heróis que merece. O mesmo vale quanto aos escritores. Enquanto os portugueses sentem o ego inflacionado quando algum jornal de Kuala Lampur cita, num canto da página 16, algum romance do António Lobo Antunes (que morreu para a literatura há muito tempo, se é que alguma vez chegou a existir como escritor) ou esse bluff chamado José Saramago (um dos escritores mais estilisticamente medíocre e intelectualmente vácuo que conheci em toda a minha vida, cujo prémio Nobel da Literatura devia envergonhar os portugueses, em vez de os honrar, pois equivale a alguma instituição internacional atribuir um qualquer prémio ao major Tomé ou ao Otelo Saraiva de Carvalho), outros países, como os EUA, tem o Richard Yates.
Qualquer pessoa que, como eu, tenha uma cultura basicamente anglo-saxónica, conhece o asco e o desprezo com que a intelectualidade nacional trata a literatura norte-americana, a mais profunda, criativa e estimulante literatura mundial do pós-guerra. Para os portugueses, nomes como O. Henry, F. Scott Fitzgerald, William Faulkner, Ernest Hemingway (embora esteja longe de ser um indefectível do Hemingway, The Sun Also Rises é provavelmente o mais belo livro escrito no século XX, juntamente com Revolutionary Road – já lá vamos – e The Wild Palms, do Faulkner), Saul Bellow, Joseph Heller, Norman Mailer, Gore Vidal, William Styron, Harold Brodkey, Philip Roth, André Dubus, John Cheever, John Updike ou, mais recentemente, Richard Ford, dizem pouco ou nada. Para os portugueses, quanto mais “poético” ou “belo” o estilo, melhor o escritor. Os portugueses preferem babar-se nas imagens frouxas de um Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada, desse irritante Pablo Neruda (Eli Eli lama sabactani!...) a confrontarem-se com, por exemplo, o What Thou Lovest Well, Remains American do Richard Hugo. Para ler Hugo, Styron ou Dubus é preciso força e os portugueses são como uma turma de adolescentes virgens a suspirar pelas pestanas do Brad Pitt. Os portugueses têm uma crónica incapacidade de lidarem com a realidade. Deambulam entre o delicodoce das Rebelos Pintos e o pseudo-neo-realismo chunga de uma Teresa Villaverde ou um Pedro Costa. Ou querem ver mulheres de sucesso de jantam todos os dias na Bica do Sapato – que são uma minoria – ou querem ver jovens mães solteiras toxicodependentes que morrem de overdose – que são outra minoria. Os sonhos, quotidiano, aspirações, desilusões, tédio e amor da classe-média, ninguém suporta. Basicamente, os portugueses não gostam de se ver ao espelho e os escritores e realizadores portugueses fazem o favor de não lhes mostrar qualquer superfície minimamente espelhada, que não seja um espelho de circo, deformado para o bem ou para o mal. As tentativas de o fazer, como o Francisco Lucas Pires, não passam de redacções do ciclo preparatório escritas por admiradores babados e babosos do Raymond Carver (o escritor que mais fez pela descida do grau de exigência na literatura moderna, com as suas short stories pretensamente carregadas de significado, quando na realidade não querem dizer absolutamente nada e que não passam de uma péssima tentativa de tradução para a linguagem literária da solidão dos quadros do Edward Hooper). Ainda assim, preferia – se a isso fosse obrigado, claro – ler os textos do Francisco Lucas Pires a ter de chupar com as homages ao Saramago de um José Luís Peixoto. Mal por mal, que venha o medíocre original. Um Joseph Stalin ou um Adolf Hitler sempre têm uma dimensão que um Kin Jon-Il ou um Mahmoud Ahmadinejad nunca terão.
Porém, de todos os escritores norte-americanos do pós-guerra, Richard Yates é um caso estranho. Catalogado no limbo de ser um writer’s writer (a definição de alguém que os seus colegas escritores incensam, mas que o publico olimpicamente ignora), Richard Yates espantou o mundo literário norte-americano com a publicação, em 1961, do mais belo e perfeito romance do pós-guerra, que define todo o período com uma mestria que nenhum outro escritor conseguiu até hoje igualar: Revolutionary Road. A obra é um hino à vacuidade de um período em que o consumo era o reflexo de um optimismo desmesurado na sociedade norte-americana, mas em que os valores que haviam pautado essa mesma sociedade – a abnegação, o heroísmo, a individualidade – tinham morrido com o regresso a casa das tropas. E o irónico em Richard Yates é que a sua vida reflecte a sua obra. Jornalista, ghost writer do senador Robert Kennedy (a quem escrevia os discursos) e por fim publicitário, os romances de Yates foram sendo publicados e esquecidos quase à mesma velocidade, chegando-se à caricata e trágica situação dos meados dos anos 90, em que todos os seus romances estavam fora de circulação. Apenas a insistência e dedicação de escritores brilhantes como Richard Ford e Richard Russo começaram a reabilitar a obra daquele se considero o maior escritor norte-americano da segunda metade do século XX. Outros têm obras mais regulares (Philip Roth), outros são mas intelectuais e profundos (Saul Bellow), outros são mais intensos (William Styron), outros são mais poéticos, na verdadeira acepção da palavra (Paul Bowles), mas nenhum consegue comover os leitores como Richard Yates em romances como Revolutionary Road, A Special Providence, The Easter Parade, A Good School, Cold Spring Harbor ou nesse seminal e absolutamente magnífico The Collected Stories of Richard Yates, que reúne as short stories publicadas nos volumes Eleven Kind Of Loneliness e Liars In Love, para além de short stories inéditas, que não foram aceites por revistas como a New Yorker. Sim, porque para além de ser o mais tocante e trágico escritor do pós-guerra, Richard Yates foi também, sem dúvida alguma, o zénite desse estilo tão norte-americano das short stories, o seu maior mestre e o único que felizmente nada devia ao Chekhov, ídolo do Raymond Carver e outros que tais. Assim chegamos a uma situação sem saída. Os portugueses desprezam os escritores norte-americanos. Os leitores norte-americanos desprezam Richard Yates. Não é preciso dizer o que vale Richard Yates para os leitores portugueses. Ainda bem. De todas as ignomínias que caíram sobre o escritor, como o olvido das suas obras e o ostracismo dos seus pares, a maior humilhação possível seria a admiração do Eduardo Prado Coelho.
setembro 06, 2006
Big Phil For President
O Scolari, que eu apesar de tudo não suporto, disse algo acertado pela primeira vez na vida: durante os próximos seis meses, caso os jogadores da Selecção Nacional continuem na medíocre forma física em que se apresentaram ao estágio, não podemos aspirar a nada mais do que meia dúzia de empates, sendo o principal objectivo da Selecção minimizar danos. Eu apoio esta atitude para o Governo e espero ouvir o José Sócrates, com a mesma coragem e realismo, afirmar que, nos próximos anos, caso os portugueses mantenham a medíocre produtividade com que se apresentam na Europa nos últimos anos, Portugal não pode aspirar a nada mais do que meia dúzia de acordos com multinacionais, sendo o principal objectivo de Portugal minimizar danos e não retroceder à condição de país em vias de desenvolvimento. E de caminho, se quisesse, o José Sócrates também poderia chamar bosta ao Miguel Sousa Tavares. Afinal, uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade, como dizia o Göebbels.
O Scolari, que eu apesar de tudo não suporto, disse algo acertado pela primeira vez na vida: durante os próximos seis meses, caso os jogadores da Selecção Nacional continuem na medíocre forma física em que se apresentaram ao estágio, não podemos aspirar a nada mais do que meia dúzia de empates, sendo o principal objectivo da Selecção minimizar danos. Eu apoio esta atitude para o Governo e espero ouvir o José Sócrates, com a mesma coragem e realismo, afirmar que, nos próximos anos, caso os portugueses mantenham a medíocre produtividade com que se apresentam na Europa nos últimos anos, Portugal não pode aspirar a nada mais do que meia dúzia de acordos com multinacionais, sendo o principal objectivo de Portugal minimizar danos e não retroceder à condição de país em vias de desenvolvimento. E de caminho, se quisesse, o José Sócrates também poderia chamar bosta ao Miguel Sousa Tavares. Afinal, uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade, como dizia o Göebbels.
"Toro! Toro! Toro!"
Com tanta preocupação com o desemprego neste país, talvez os portugueses não protestassem tanto contra as touradas se alguém lhes lembrasse que ser toureiro é uma profissão e que, por exemplo, o melhor toureiro da actualidade, o sublime Julián López Escobar, El Juli, um jovem de 24 anos, cobra 250 000 euros por cada corrida. Sendo que ele faz dezenas de corridas numa temporada, é fazer as contas, como diria o António Guterres. E que a indústria da tourada, em Espanha, movimenta todos os anos um valor superior ao PIB português. Mas nada disso importa aos licenciados da Universidade Nova de Lisboa e demais hippie freaks que enchem as manifestações da ANIMAL e da Sociedade Protectora dos Animais. Resta-me esperar que os factos supramencionados passem para a agenda pública quando o Patrick Monteiro de Barros anunciar a construção de uma mega praça de touros, com capacidade para 200 000 espectadores, em Beja ou coisa que o valha.
setembro 03, 2006
This one goes out to the one I love
Mais um ano, estive presente nas festas de Nossa Senhora de Conceição, realizadas na minha terra, Barrancos. Durante toda a minha vida me habituei a olhar para aqueles últimos quatro dias do mês de Agosto como um espaço de tempo em que tudo era permitido, quando me reencontrava com velhos amigos, lembrávamos antigas memórias, as bebedeiras passadas, as paixões passadas, as oportunidades perdidas, em que analisávamos, sem o dizer, apenas para nós mesmos, como as nossas vidas tinham mudado e os nossos caminhos divergido, apesar de permanecer sempre a amizade, quantas vezes mais um hábito de preguiçosos do que um real sentimento. Mas este ano foi diferente. Durante os últimos anos defendi as festas, contra tudo e contra todos, afirmando que os lisboetas não entendiam a maneira de viver dos barranquenhos, para quem um animal não é um pet que serve para fazer festinhas, mas algo que deve servir um propósito, seja ele económico ou ritual. Continuo a acreditar nisso. Mas este ano, separado todos aqueles da minha mulher, sentindo a sua ausência como um paciente sente um membro amputado - julgando fisicamente ainda estar lá, quando na realidade não está - tudo aquilo me pareceu uma brincadeira de crianças que se recusam a crescer e que fazem asneiras na sala de aula, quando a professora vai, por momentos, à casa-de-banho. Nunca fui uma pessoa confessional e não é agora que vou começar a ser. O que eu penso intimamente apenas a mim e a quem me ama interessa. Mas, por uma vez, quebro essa regra. Porque, pela primeira vez, naquela praça, soube o que o touro sofre, sentindo cada pontada de saudade como se uma banderilha se tachasse em mim. E as pessoas, os meus amigos, os meus primos, os meus parentes, que assistiam ao sofrimento do touro também, de certa maneira, participavam do meu sofrimento – pela simples razão de eu estar ali por causa deles – com o mesmo sadismo, ainda que involuntário. O touro, no final, morreu. Eu, no final, voltei agradecido e ansioso para os braços da minha mulher, que me indultou. Tivesse o touro espetado os cornos em mim e não poderia dizer que tinha sido injusto. Bem pelo contrário. O touro não tinha opção: tinha de estar ali. Eu estava ali e não devia estar. Não tinha desculpas e muito menos justificação. Continuo a pensar tudo o que sempre pensei sobre Barrancos. Espero que deixem aos barranquenhos continuar as suas festas em paz, como sempre fizeram. Mas agora, para mim, tudo isso deixou de ser relevante. Os meus amigos, os meus parentes, o meu passado, tudo isso encontro na minha mulher. Não preciso de mais. Sempre disse que achava uma imensa sorte ser de Barrancos. Mas maior, incomensuravelmente maior sorte (a simples comparação é ridícula) é viver com, amar e ser amado por aquela pessoa em quem penso quando escrevo estas palavras. Hoje, não me importava de deixar de ser de Barrancos. Apenas não quero deixar de ser dela.
Mais um ano, estive presente nas festas de Nossa Senhora de Conceição, realizadas na minha terra, Barrancos. Durante toda a minha vida me habituei a olhar para aqueles últimos quatro dias do mês de Agosto como um espaço de tempo em que tudo era permitido, quando me reencontrava com velhos amigos, lembrávamos antigas memórias, as bebedeiras passadas, as paixões passadas, as oportunidades perdidas, em que analisávamos, sem o dizer, apenas para nós mesmos, como as nossas vidas tinham mudado e os nossos caminhos divergido, apesar de permanecer sempre a amizade, quantas vezes mais um hábito de preguiçosos do que um real sentimento. Mas este ano foi diferente. Durante os últimos anos defendi as festas, contra tudo e contra todos, afirmando que os lisboetas não entendiam a maneira de viver dos barranquenhos, para quem um animal não é um pet que serve para fazer festinhas, mas algo que deve servir um propósito, seja ele económico ou ritual. Continuo a acreditar nisso. Mas este ano, separado todos aqueles da minha mulher, sentindo a sua ausência como um paciente sente um membro amputado - julgando fisicamente ainda estar lá, quando na realidade não está - tudo aquilo me pareceu uma brincadeira de crianças que se recusam a crescer e que fazem asneiras na sala de aula, quando a professora vai, por momentos, à casa-de-banho. Nunca fui uma pessoa confessional e não é agora que vou começar a ser. O que eu penso intimamente apenas a mim e a quem me ama interessa. Mas, por uma vez, quebro essa regra. Porque, pela primeira vez, naquela praça, soube o que o touro sofre, sentindo cada pontada de saudade como se uma banderilha se tachasse em mim. E as pessoas, os meus amigos, os meus primos, os meus parentes, que assistiam ao sofrimento do touro também, de certa maneira, participavam do meu sofrimento – pela simples razão de eu estar ali por causa deles – com o mesmo sadismo, ainda que involuntário. O touro, no final, morreu. Eu, no final, voltei agradecido e ansioso para os braços da minha mulher, que me indultou. Tivesse o touro espetado os cornos em mim e não poderia dizer que tinha sido injusto. Bem pelo contrário. O touro não tinha opção: tinha de estar ali. Eu estava ali e não devia estar. Não tinha desculpas e muito menos justificação. Continuo a pensar tudo o que sempre pensei sobre Barrancos. Espero que deixem aos barranquenhos continuar as suas festas em paz, como sempre fizeram. Mas agora, para mim, tudo isso deixou de ser relevante. Os meus amigos, os meus parentes, o meu passado, tudo isso encontro na minha mulher. Não preciso de mais. Sempre disse que achava uma imensa sorte ser de Barrancos. Mas maior, incomensuravelmente maior sorte (a simples comparação é ridícula) é viver com, amar e ser amado por aquela pessoa em quem penso quando escrevo estas palavras. Hoje, não me importava de deixar de ser de Barrancos. Apenas não quero deixar de ser dela.
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