setembro 15, 2006

Soares é fixe!

Depois de uma overdose de programas e documentários sobre o 9/11, com reconstituições supostamente comoventes dos últimos momentos dos passageiros do voo 11 da United Airlines e teorias da conspiração esquizofrénicas, chegou-nos ontem a jóia da coroa: o Prós & Contras. Hoje em dia, quando se ouve que Mário Soares vai participar num debate, surge imediatamente um murmurinho de excitação, semelhante ao que os aficionados sentem em Espanha ou na minha terra quando se ouve que o touro tem mais de 500 quilos. Mário Soares é, juntamente com Melo Antunes, a pessoa a quem mais devemos o actual sistema democrático nacional (embora as minhas inclinações pessoais evidentemente se dirijam mais para o distanciado Melo Antunes do que para o quezilento e egocêntrico Mário Soares). Não deixa por isso de ser triste vê-lo reduzido a esta espécie de caricatura do Fernando Rosas (razão tinham os espartanos, quando atiravam os velhos inúteis e senis de um penhasco). Antes de mais, não posso deixar de criticar a RTP, que escolheu alguém – o Pacheco Pereira – que em diversas ocasiões mostrou uma reverência a raiar o temor por Mário Soares. Pacheco Pereira claramente tem receio de ser duro com o idoso Mário Soares, como é com o Jorge Coelho, provavelmente porque teme ser considerado mal-educado ou ser acusado de bater no ceguinho. Um Nuno Rogeiro teria sido um verdadeiro opositor de Mário Soares, embora não consiga ver o Nuno Rogeiro mais do que cinco minutos sem me começar a rir, mesmo concordando com o que ele diz (há pessoas que têm esse efeito nas outras, como o Nuno Rogeiro ou o Ricky Gervais). Isto, claro, para não falar do opositor ideal, sobre aquele ou qualquer outro tema, para Mário Soares: Paulo Portas. Mas um boca a boca com Mário Soares, nesta altura do campeonato, equivaleria a assumir um retorno à política, algo que o Paulo Portas notoriamente ainda não deseja (e bem, digo eu: para quê lutar contra Ribeiro e Castro quando o presidente do CDS/PP parece apostado em auto-destruir-se? Para quê tentar assassinar um suicida?).
Que Mário Soares embarque em teorias da conspiração, não me admira. A senilidade tem destas coisas. E a amnésia, pois é no mínimo engraçado ouvir Mário Soares diabolizar o país, após o 25 de Abril, financiou quase a fundo perdido o Partido Socialista. Ou será que Mário Soares já não se lembra do Frank Carlucci? Mas o mais gratificante foi ver a tentativa patética de todos os participantes de Esquerda de baterem na mesma tecla de sempre, a que os muçulmanos são um povo trabalhador que em nada se revê nas demências feudais do Osama bin Laden e seus acólitos. Pois bem, a RTP fez-lhes o favor de convidar um intelectual e um edvogado muçulmanos. Atenção, não estamos a falar de taxistas paquistaneses ou empregados de mesa de restaurantes marroquinos. Estamos a falar de muçulmanos formados, cultos e informados. E o que é que esses moderados, de quem a Esquerda espera reformas internas no Islão, nos disseram? Que o 9/11 foi orquestrado pelos EUA. Claro. Mário Soares, reclinado na sua cadeira, sorriu e concordou. Mas o mais irónico é a justificação oferecida pelos dois intelectuais. A Al-Qaeda, por si só, nunca poderia ter organizado um ataque tão sofisticado. É esta a visão que os muçulmanos têm deles mesmos. Muçulmanos cultos e educados como Osama bin Laden (educado nos melhores colégios privados de Inglaterra) e Ayman al-Zawahiri (médico de profissão e professor universitário) nunca conseguiriam pensar em desviar aviões e espetá-los contra prédios. De facto, é necessário a ajuda de um Henry Kissinger para pensar em algo com tão elevado grau de sofisticação. E Mário Soares e demais convidados de Esquerda assinaram por baixo, passando um atestado de minoridade intelectual e civilizacional a todo o Islão, alegremente. Fossem eles fazendeiros colonialistas a falar dos seus pretos e não teriam dito melhor. Os muçulmanos necessitam da ajuda dos ocidentais para retirar petróleo do seu próprio sub-solo, isso é verdade. Mas não para matar pessoas. Nisso, há centenas de anos, eles são especialistas. Ou não tivessem sido os muçulmanos, não os europeus, a começar a escravatura moderna nos séculos XIV e XV, vendendo os negros vencidos em batalhas, ali para a região de Darfur, onde os muçulmanos continuam a tratar os negros com enorme diligência, como sabemos. Ainda tentou rumar contra a maré e enfiar algum tino naquelas cabeças duras a historiadora Helena Matos. Para quê, Helena? Os pinguins, de vez em quando, gostam de se suicidarem. Não vale a pena tentar convencê-los a não se atirarem dos rochedos. É preferível ajudá-los e dar-lhes um empurrão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mario Soares antiamericano; Manuel Fraga Iribarne antiamericano

Moses E. Herzog disse...

Usāmah bin Muhammad bin `Awad bin Lādin anti-americano, isso sem dívida.