fevereiro 14, 2006


Sou só eu que acho isso ou o Bénard da Costa parece mesmo o Maomé?

De todas as teorias sobre as caricaturas de Maomé, a mais recorrente e geralmente aceite em Portugal é a de que os actos de violência perpetrados por muçulmanos são realizados por meia-dúzia de fanáticos wahabitas (normalmente não se usa esta palavra, mas “fundamentalistas”, pois saber o que é o wahabismo ou o Kitâb at-Tawhid pressupõe um conhecimento sobre a história do Islão que os nossos comentadores políticos, excepção feita a honrosas excepções, manifestamente não têm, o que não os impede de arrotarem mais postas de pescada do que a Pescanova), severamente condenados, no íntimo, pelos quase dois mil milhões de muçulmanos que existem no mundo. Vamos lá ver essa teoria mais de perto, usando termos de comparação. Como adepto do Futebol Clube do Porto que sou, estou habituado a ser olhado em Lisboa, cidade onde vivo há doze anos, como um membro de uma seita perigosa e incontrolável, sendo o Jorge Nuno Pinto da Costa uma espécie de Muhammad ibn ‘Abdel Wahab do futebol nacional. Para provarem esta teoria, citam-se os Super Dragões que, quais operacionais da al-Qaeda, costumam destruir áreas de serviço nas auto-estradas e recentemente incendiaram o automóvel do treinador Co Adriaanse. Tal como se defendeu os muçulmanos, também se levantaram vozes de condenação a este acto bárbaro e lembrou-se que, na sua esmagadora maioria, os adeptos do Futebol Clube do Porto são pessoas pacíficas, com empregos e famílias, que vibram desportivamente com o clube do seu coração. A grande diferença é que, no caso do ataque ao Co Adriaanse, os primeiros a condenar o ataque foram comentadores que admitem publicamente serem adeptos ou mesmo sócios do Futebol Clube do Porto. Mas essa é a grande diferença entre ser do Futebol Clube do Porto e ser muçulmano. Onde estão, no mundo árabe, os Sousa Tavares que condenam a violência contra as embaixadas europeias? Onde estão os Guilhermes Aguiares que repudiam todos os actos da al-Qaeda? Onde estão os comunicados oficiais dos Pintos da Costa a decretarem heréticos os senhores Osama bin Laden e Abu Musab al-Zarqawi? Sim senhor, o Kitâb at-Tawhid – o livro de comentários escrito por Muhammad ibn ‘Abdel Wahab – contradiz em muitas passagens o próprio Corão e foi, no seu tempo, condenado como herético pelos sábios de Meca. O problema é que, a julgar pelo silêncio cúmplice dos dois mil milhões de muçulmanos sobre o terrorismo islâmico, alguém lhes devia lembrar isso. Ah, pois, já me esquecia… Os muçulmanos moderados, essa enorme multidão de mártires, não condena a violência porque vivem sob o jugo de ditadores sanguinários que os impedem de se expressarem livremente. É por essa razão que os quase cinquenta milhões de muçulmanos que vivem na Europa não condenaram, exceptuando meia-dúzia de vendedores de fruta que os jornalistas europeus conseguiram a custo encontrar, os atentados que se realizaram em Nova York, Bali, Madrid ou Londres. Porque viviam sob o jugo de ditadores sanguinários, como o Tony Blair, o José Maria Aznar, o Jacques Chirac ou o Gerard Schroeder, que os impediam de se expressarem livremente. Curiosamente, os únicos líderes muçulmanos que condenaram, desde 2001, todos os ataques terroristas e que proclamaram heréticos os senhores da al-Qaeda foram aqueles que vivem nos Estados Unidos da América. Ele há coincidências espantosas.

6 comentários: